domingo, 28 de dezembro de 2008

ROBERTO CARLOS ESPECIAL

“ Quando eu estou aquí, eu sinto este momento lindo… olhando pra você e as mesmas emoções sentindo... são tantas já vividas, são momentos que eu não esqueci....eh eh eh eh, é muita emoção!... “
A noite do Especial de Roberto na TV Globo, há tantos anos, é um dos programas que eu me dou o luxo de assistir, totalmente concentrada no meu mais íntimo camarote das minhas emoções.
Sobram emoções e sobram lembranças a cada música interpretada na voz de Roberto e de seus convidados. Roberto é luz e irradia amor. O Rei Roberto Carlos, arrasta multidões de súditos, para alegria dos seus fãs, conquistando também os jovens fãs e contrariando os fãs não assumidos. Não há quem não seja fã, mesmo os não assumidos, de olho na tela na ponga de um verdadeiro fã, a sentir suas emoções afloradas quando em cada canção se descortinam lembranças muito caras de nossas vidas...
Na época em que ele estava passando seus momentos difíceis com a morte de Maria Rita, grifei cuidadosamente os melhores parágrafos do livro: As margens do Rio Prieto... Sentei e Chorei, escrito por Paulo Coelho. Fiz pensando exclusivamente em Roberto. Tive a felicidade de no final do seu show em Feira de Santana, numa tentativa frustrada de entregar pessoalmente a ele, joguei no palco, o livro, quase acertando no maestro Eduardo Lage. No livro escrevi uma dedicatória mais ou menos assim: “ O amor que sentimos por você percorre quatro gerações: da minha mãe, a minha especialmente, a da minha filha e também da minha netinha...” . Sou uma fã privilegiada por ter vivido o tempo da vida inteira da carreira de Roberto Carlos e ainda quero ter muitos anos pela frente para estar vivenciando, com todos os fãs, o Especial de final de ano do meu ídolo, numa corrente única de muitas emoções.
Não poupo lágrimas e sei que me faz bem chorar e chorar muito ao ouvir Roberto cantando. Suas canções revelam minha verdadeira alma, resgata sentimentos, fala da minha vida, dos meus melhores momentos e da minha saudade. Nelas contém minhas histórias e muitas histórias de milhões de fãs.
E para os fãs não assumidos de Roberto Carlos, deixo aqui o meu recadinho: Prometo que no próximo Especial de Roberto Carlos, vou estar novamente sentindo as mesmas emoções, ouvindo as mesmas músicas, na mesma mesmice de sempre, para ter a felicidade de sentir MUITAS EMOÇÕES, eh eh eh...

Núbia Parente - SSA-BA - 25/12/2008

FLORESTA ( Hai Kai )

nenhuma flor resta
os troncos abatidos
nenhuma floresta

Núbia Parente- SSA-BA - 28/12/2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

DEUS em minha vida!

Deus também está na vida de todo mundo e está na mesma intensidade, com o mesmo amor. Neste Natal, vou descrever um breve exemplo da atenção especial de Deus para comigo.
Quem me conhece, sabe e quem convive comigo se cansa e até se irrita do meu jeitão improvisado, distraído, despreocupado, destrambelhado, etc, etc, sem medo do futuro e de ser feliz. Sempre confiei em Deus, ando, corro, trabalho, e espero que no final tudo dá certo.
No mês passado meu genro me ligou dizendo: “Minha sogra, posso comprar o seu ingresso da Ebateca para a primeira apresentação de dança de Maria Luiza no Teatro Diplomata no dia 06 de Dezembro?” – Como pode uma avó recusar um convite deste? E ele complementou, “mas a senhora vai mesmo, não é? e não vai chegar atrasada como faz toda vez que a gente marca no cinema, não é? Eu dei uma boa risada e disse: Claro! Pode comprar. Vou com vocês para não me atrasar.”
Esqueci o compromisso. Aceitei a proposta de vender o Réveillon da Gávea no mês de dezembro e 06 de dezembro era a data que Adriana, minha colega, pediu para substituí-la no caixa para fazer uma prova de concurso. Dia de sábado, verão, é impossível sair cedo! Viviane me ligou para confirmar se eu ia mesmo. Foi com o coração partido e toda sem jeito que eu disse não poder. Prontamente ela respondeu: “Eu sabia mãe que você não ia poder ir. Então vou dar o convite para outra pessoa”.
Depois daquele momento em diante meu coração se encheu de vontade. Eu até precisava comprar uma roupa para ir neste Teatro e como não havia mais tempo de comprar e nem de ir, o jeito era continuar a fazer minhas obrigações. Tantas coisas eu tive vontade nesta vida de fazer e não pude, até já estou acostumada a não me aborrecer por isso. Mas a vontade e o pensamento não saia da minha cabeça de ver minha netinha dançando em cima de um placo todo iluminado...
Logo no dito sábado pela manhã, dia 6 de dezembro, acordei na casa de Dona Vera, depois de trabalhar no escritório na noite de sexta e ela foi me dando uma roupa lindinha como faz de surpresa, vez em quando. Na hora eu pensei: “Veja como Deus é bom, lembrou de me providenciar a roupa que eu precisava caso eu fosse para o evento...”
Mais ou menos ãs 15 horas, bateu uma chuva na Gávea e a clientela começou a pedir as contas foi possível fechar a Gávea 17 horas. De volta para casa, no ônibus, pensei, que pudesse dar tempo me arrumar e pegar um taxi para o evento, mas o ingresso Viviane poderia ter dado para outra pessoa... eu não teria coragem de perguntar, mas na exata hora que eu estou pensando nisso Viviane me ligou dizendo: “ Mãe, estou de saída, mas vou levando seu ingresso, eu não dei ele para ninguém...” – Aí eu dei um pulo de alegria! Perguntei onde ficava o Teatro lá em Patamares e fui direto me arrumar, peguei o ônibus para descer na Orla e depois planejei pegar um taxi. Faltavam 10 minutos para às 19 horas e para começar o evento. Quando o cobrador disse que era perto e eu podia ir andando, fiquei super feliz. Mas não era tão perto e eu tive que ir correndo em cima de um sapato alto, chegando lá ainda em tempo das cortinas se abrirem.
Até deu para descansar e quando a cortinha se abriu, foi uma surpresa para Maria Luiza me ver lá toda sorridente e o sorriso de cumplicidade dela, tocando um tamborzinho, na verdade eu nunca vou esquecer esta felicidade.
Já nos meus travesseiros..., fui revivendo passo a passo cada etapa deste episódio e muito claro foi se revelando a imagem bondosa de Jesus Cristo sorrindo para mim, como muitas vezes se apresentou a cada agradecimento que fiz por Ele ter providenciado tudo por mim, para satisfazer as minhas vontades, durante minha vida toda, em situações incríveis e hilárias, sem nem se quer se mostrar cansado ou irritado pelo meu jeito maluco de viver.
Obrigada Jesus, pela sua Misericórdia e pela sua bondosa atenção para comigo. Eu Te Amo!
Nubia Parente – 24/12/2008

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

De Fabricio para Mauricio


Tia, É Fabrício! Tudo bem com a senhora? Sei que a senhora gosta de poesia, veja a que eu fiz para Maurício:


S e m I s s o!

É retirar João de Gilbeto,
O certo do inserto,
Maria sem Quitéria,
Planeta sem hemisfério,
O som sem estéreo
Futebol sem gol,
Sorvete sem calor.

É como ouvir Maria sem Betânia,
Afastar Castro de Alves,
Subtrair Caetano de Veloso,
É separar a feira, de Santana.

Como Luiz sem Gonzaga,
Árvore com nada,
Cometa sem cauda,
Zoologico sem bicho,
Enfim(...), é Fabrício sem Maurício.

São Paulo, 04 de novembro de 2008.
Beijo, Saudade, Fabrício!

(Meu querido sobrinho do meu sobrinho-netinho e afilhado: Seu amor pelo seu filho me encanta e é também por isso que te amo! )

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Caravelas (Hai Kai)

Nas caravelas
Navegam velhas baratas
Nas caras velas.

Núbia Parente - SSA - 20/10/2008

terça-feira, 7 de outubro de 2008

PARABENS NILTINHA

MINHA IRMÃ NILTINHA
EU TE AMO DO FUNDO DO MEU CORAÇÃO.
Aqui transcrevo suas mensagens que você colocou no seu orkut hoje.
Nilta Parente:
"Eu sou feita de / Sonhos interrompidos /Detalhes despercebidos /E amores mal resolvidos /Sou feita de /Choros sem ter razão /Pessoas no coração /E atos por impulsão / Sinto falta de /Lugares que conheci /Experiências que não vivi / E de momentos que nunca esqueci. /Nem sempre /Sou Amor e carinho constante / Veloz até o bastante /E não paro por um instante /Já / Tive noites mal dormidas / Perdi pessoas muito queridas / Cumpri coisas não-prometidas / Muitas vezes eu / Desisti sem mesmo tentar / Pensei em fugir só pra nãoenfrentar / E sorri para não chorar / Eu sinto pelas / Coisas que não mudei / Amizades que não cultivei / Aqueles que eu julguei / E coisas que eu falei / Tenho saudade / De pessoas que fui conhecendo / Lembranças que fui esquecendo / Amigos que acabei perdendo / Mas eu continuo vivendo e aprendendo"(Mário Quintana) Com algumas modificações...
04:15 (2 horas atrás)
Nilta Parente:
Aos meus filhos: Vcs encheram de alegria e amor a minha vida. Sou grata a Deus por vcs! Todos os dias eu penso q Deus, na sua Infinita Bondade, abriu as portas do Paraíso e retirou de lá quatro Anjinhos e colocou na nossa casa! Como admiro vcs quatro, pelo esforço, pela maneira calma e bonita de serem, pela delicadeza para com todas as pessoas, pela dedicação a tudo q se dispõem a fazer...E por serem irmãos tão imensamente unidos! Enfim, pela boa educação q todos captaram, direcionada dos melhores educadores do mundo, através de livros de educação infantil (a quem sempre eu cuidadosamente recorria quando precisava, para descobrir a maneira mais correta de educar. Lembro de alguns:" Meus filhos, minha vida"- "Pais inteligentes, filhos felizes"-"Como educar os filhos de 1 a 5 anos"- "Quem ama, educa"- "Ninguém é Perfeiro"- "Estrela cor-de-rosa"- ""Gustavo e os Medos", daí por diante...)Sejam todos bem Felizes, MEUS FILHOS! Garanto q fiz o q pude.
03:25 (3 horas atrás)
Nilta Parente:
PARA MEU MARIDO: Obrigada, Cori, pela convivência de tantos anos! Pelo amor imenso dedicado aos nossos filhos! Pelo incentivo aos meus negócios! Por ter me ensinado o caminho de uma vida sem problemas! Vc é indispensável na minha vida.
02:59 (3½ horas atrás)
Nilta Parente:
Perdas e Ganhos Fruto de enganos ou de amor. Nasço de minha própria contradição. O contorno da boca, a forma da mão, o jeito de andar (sonhos e temores) virão desses q me formaram. Mas o q eu traçar, no espelho há de se armar tbm, segundo o meu desejo. Terei meu par de asas. Cujo vôo se levanta. Desses q me dão a sombra onde eu cresço- como debaixo da árvore: um caule e uma flor!(Do livro: Perdas e Danos, Bye Luft)

domingo, 28 de setembro de 2008

UM DIA DE DOMINGO

(Ouvindo esta música, chorei nesta manhã de domingo, enquanto ia trabalhar...)

Eu preciso te falar
te encontrarde qualquer jeito
pra sentar e conversar
depois andarde encontro ao vento
eu preciso respirar
o mesmo ar que te rodeia
e na pele quero ter
o mesmo sol que te bronzeia
eu preciso te tocar
e outra vez te ver sorrindo
e voltar num sonho lindo
já não dá mais pra viver
um sentimento sem sentido
eu preciso descobrir
a emoção de estar contigo
ver o sol amanhecer
e ver a vida acontecer
como um dia de domingo
Faz de conta que ainda é cedo
tudo vai ficar por conta da emoção
Faz de conta que ainda é cedo
e deixar falar a voz a voz do coração
http://www.kboing.com.br/script/radioonline/radio/player.php?musica=41321&op=1&rd=639857

Nubia Parente - 28/09/2008

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

UM AMIGO

Quando encontro um amigo,
E no coração a ternura,
Meu ombro é seu abrigo
Cheio de amizade pura!

Núbia Parente - 22/09/2008

terça-feira, 2 de setembro de 2008

No dia da minha folga

No dia da minha folga, escolho fazer um dia diferente.
Mulher é assim, enfeita tudo! Começo um dia maravilhoso e feliz!
Aqui no meu cantinho, com muito prazer vou arrumando, limpando, dando um jeitinho aqui e outro ali. Quando menos espero o tempo vai passando e eu esquecendo de mim.
Às vezes, fico tão no meu papel de mãe que deixo para me cuidar na última hora। Isso é um hábito antigo, que com esforço quero me corrigir. Até que os meninos me dêem uma trégua, vou fazendo o meu papel de mãe. Os filhos pensam que as mães não são desse mundo. Porque como diz Junior, “gente é gente e mãe é mãe!”. E a minha folga?...

sábado, 23 de agosto de 2008

Cícero Dantas - Minha Terra Natal

Cícero Dantas – minha terra natal
Em Cícero Dantas nasci, vivi minha infância e o início da adolescência. Aprendi a amar e respeitar a natureza, apreciando o verde dos pastos do senhor Isaac e construí meus sonhos, mirando o Alto do Bem-Querer, até então, aos meus olhos, o pico mais alto do mundo. Nenhum mingau de milho até hoje se compara ao delicioso sabor do mingau de dona Palmira e nenhum passeio público me divertiu mais que o da Rua do Abrigo, depois do jantar. Do cartão postal do Alto dos Vieiras, fotografa-se a vista panorâmica de toda a cidade.
As escadarias do cemitério, de tantos degraus, me fizeram pensar nostalgicamente, na minha inocência, que poderiam alcançar os céus, enquanto o sino da igreja badalava em sinal de tristeza, quando estavam repletas de gente subindo lentamente. A igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho, rodeada de jardins e superlotada nas missas do domingo, deixou lembranças abençoadas dos meus pais e de sua fé em Deus, além do encontro dos fiéis para ouvir o monsenhor Galvão e o padre Elias. Depois da missa, o bar de Carlito era ponto de encontro da juventude.
No Instituto Bom Conselho e depois no Ginásio Monsenhor Renato Galvão, minha mãe em sua missão: inesquecível professora Renota; o diretor, meu querido professor Manuel, também lecionava Português e percebia que eu não era boa aluna; para o querido Eronildes Amaral, ensinar inglês com aquele sotaque cicerodantense, de vogais abertas, era mais que um desafio, uma missão quase impossível. Zé Canário, sempre assoviando enquanto zelava a escola e a todos nós alunos, tão manso e educado...
Na descida da igreja, dia de segunda-feira, barracas espalhadas por setores de frutas, tecidos, animais, entre outros, compunham movimentada feira; no mercado, os ourives, um deles era Nicodemos, meu tão amado pai.
As festas Rubra, Rosa e Branca que aconteciam na ARB – Associação Recreativa Bonconselhense, a orquestra Los Guaranis, a juventude bonita e Nilta sempre muito linda, até hoje sinto orgulho de ser sua irmã. Os bancários do Banco do Brasil eram famosos. Uma vaca louca sempre estava a fazer arruaça na rua, como adivinhasse estar indo para o matadouro. Corridas de jegue e a poeira subindo... Roda de amigos na calçada da igreja: Bené, Galego de Didô, Alberto, Tarcísio. O cinema, as matinês, e Julião aprontando quando alguém o chamava de cunhado. A marcha de ensaios para o Sete de Setembro cumpria percurso até um depósito na Rua do Trecho.
São muitas as lembranças, relíquias que jamais se apagarão de minha memória: a garagem de ônibus de José Mendonça; a beleza de dona Maria, parecendo uma santa; a elegância de dona Nena; a sabedoria de seu Zé: bastava dar a data do nascimento para ele adivinhar o dia da semana que a gente havia nascido; o prefeito Dãozinho, sem dúvida, o homem mais bonito da cidade; a venda do senhor Dacruz, minha madrinha Alice, Nana, Hilda, Lídia, Bibide, nossos vizinhos: seu Antonio Cariri e dona Dete.
Naquela pequena cidade, a luz, gerada de motor a óleo, apagava às 22 horas. Não havia televisão, nem telefone, nem asfalto; a água de chuva empossada num açude chamado Nação, abastecia a população.
A necessidade de sair de Cícero Dantas para complementar estudos era comum a todos adolescentes. Alguns não o conseguiram por falta de recursos; outros foram e voltaram; outros, inclusive eu, não mais retornamos.
Visitei minha cidade durante algumas férias e não mais que isso. Aos 55 anos quando os sonhos passam a ser escassos, surge um: voltar a Cícero Dantas numa festa de agosto! Por mais de trinta vezes, planejei, sem realizá-lo. Sempre acontecia algo que impedia. Mas tudo tem seu dia, ainda que tarde! E neste ano de 2008, realizei o meu sonho junto com Nilta. Fomos ouvindo um CD com trezentas músicas de Roberto Carlos. Todas traziam lembranças vivas de um tempo maravilhoso. Nada havia de mal-resolvido, no meu coração: eu estava feliz e plena para viver belas emoções.
Reencontrar os amigos, em clima de festa, é uma experiência ímpar. Eu me esquecera do frio que faz na minha terra. Fotografar nossos amigos e cada pedacinho que ainda restou da cidade antiga me deixou feliz demais. Abraçar alguém desconhecido que se descobre ser aquele colega que a gente nunca esqueceu é simplesmente uma felicidade fantástica. Pena que o tempo é curto e muitos ainda estão lá a nos esperar.
Vai aqui um lembrete para José Mário, que por motivos superiores não concretizou o seu sonho de juntar toda nossa turma nesta festa de agosto: na próxima, estarei lá, com fé em Deus!
Obrigada, Cícero Dantas, pelo carinho!
Núbia Parente

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Mensagens Poéticas

Quando estou na “maresia”...
Cedinho pra me animar,
Busco no email a poesia
Das trovas de Ademar.


Nubia Parente

Sem respostas...

Seja pelas razões que o seu coração sinta (sempre justas).
Seja pelos entraves que por razões muito nobre não queira ultrapassar.
Seja por algo que fiz inconsciente e você não queira perdoar.
Seja porque o seu ponto final seja antes do meu.
Seja porque alguém mais interessante me substitua.
Seja porque o seu amor cresceu e tomou todos os espaços e morreu.

Eu respeito você.
Estou a te lembrar
Sorriu no tempo, de nossas brincadeiras.
Procuro no céu aquela estrela diferente...
Sinto saudade.
E sinto também, algo mais que saudade...
Quando penso em você me aparece uma lágrima!

Núbia Parente

terça-feira, 8 de julho de 2008

Um minuto (trova)

Vou seguindo minha vida,

Mui feliz, amada e plena:

Se o coração nos convida,

Um minuto vale a pena!

Núbia Parente

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Dia Frio (Trova)

Amanhece o dia frio...
Na saudade o sonho voa.
Vejo o meu quarto vazio,
Cheio de desejo à toa.

Núbia Parente

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Lua - Hai Kai

a lua bela
no céu de Copacabana
e da favela.


Núbia Parente

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Sebastião Soares Trovador Potiguar

O Sebastião Soares
Fez trova a vida inteira...
Foi trovar em outros ares.
É Trovador de primeira!

Nubia Parente, 16;06;2008

domingo, 15 de junho de 2008

Horizonte (Hai Kai)


o céu e o mar

no horizonte nenhuma fresta,

para te espiar


Núbia Parente - abril 2006

Abelha (Hai Kai)

zoom na abelha
pousando no quadro
da flor vermelha


Nubia Parente 12;06;08

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Trova publicada no Trovadoresco no. 34 - abril 2008

Seja a vida cor de rosa
ou seja uma cruz de espinhos
vou cantar em verso e prosa
as pedras dos meus caminhos।

(Nubia Parente/BA) abril 2008

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Hai Kai

a gota d’agua
faz transbordar o copo
cheio de mágoa

Nubia Parente - 07-06-08

terça-feira, 27 de maio de 2008

HAI KAI

cheiro da terra...
chuva na seca
a molhar a serra.
Nubia Parente - 28/05/08

terça-feira, 20 de maio de 2008

JEL

FAÇO CUSCUZ DE XERÉM
CASO O AMIGO DA TELA
DE MULHER TENHA UM ARÉM
EM BUSCA DE UMA BELA
SE FAZENDO DE BONZINHO...
VOU DIZER PRO GOSTOSINHO:
MEU AMOR, OU EU OU ELA!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Para Ademar Macedo

Quem a dor souber vencer
Com alegria no peito,
Por certo, vai merecer
No céu, o que tem direito.

De: Nubia Parente para Ademar Macedo/RN

segunda-feira, 7 de abril de 2008

BAIANO E CARIOCA

Baiano e carioca
No samba ou no carnaval
Na cachaça ou na pipoca
Esquecem o vendaval.
Na vida se fantasia
Se alegra e faz poesia
E de Deus, quer seu aval।

Para Sr Paulo e Terezinha, nossos clientes da Barraca da Gávea.
Nubia, 03/04/08

domingo, 30 de março de 2008

DISTRAIDA...Meu jeito de ser

...Tudo foi simples. Foi somente uma demonstração de amor muito original do Professor, D. Vera, dos funcionários, meus filhos e meia dúzia de amigos no dia do meu aniversário. Eu fico sem graça e sem jeito, pois sou muito desatenciosa. Quase nunca lembro, é um horror! Quando vejo tanto carinho que me dão no meu aniversário, vejo que nada fiz pelos aniversários dos outros e me sinto envergonhada disso. No último aniversário de Viviane, ela ligou já pela tarde, dizendo para eu não deixar de vir na casa dela à noite. Para quê? Aconteceu alguma coisa? E ela disse – Mãe, é meu aniversário... Eu chorei no telefone, pois não era a primeira vez que eu fazia isso com ela. Em outubro estava na casa da minha sogra no Rio Grande do Sul, contando os dias para ligar para Junior exatamente no dia do aniversário dele. Quando liguei, ele disse: Mainha foi ontem... o de Jorginho nem se fala... Eu sou uma autêntica DESLIGADA. Meu marido dizia que eu só não perdia a cabeça porque estava grudada no meu pescoço. Meu apelido é furacão porque levo tudo na minha frente. Vivo com braços e pernas roxas de tanto que ando me batendo em coisas e caiu com freqüência porque não enxergo buracos e pedras. A mãe de Airton Senna numa entrevista dizia que ele derrubava tudo, era extremamente desligado, derramava café, sorvete, topava nas coisas etc. Só depois ela descobriu que ele era assim por ser muito veloz. Eu tenho tudo disso. Nunca faço uma coisa só. Em casa ligo as 06 bocas do fogão, com panelas com água para arroz, feijão, verduras, macarrão, café, e a outra para todas elas quando vão precisando. Ao mesmo tempo que coloco roupa na máquina, e enquanto saiu do banheiro para sala já vou com a vassoura e o pano úmido nos pés já passando no chão. Ao mesmo tempo, com o som ligado danço, arrumo as camas, passo roupa. Volto para cozinha, vou mexendo a comida e lavando a louça. Volto para o banheiro já suada e enquanto lavo o banheiro, tomo banho e canto.
Aprendi a dirigir desde menina, mas o meu marido dizia que eu não dirigia bem, tentou me ensinar e desistiu, de tanto que criticou, criticou, eu terminei me convencendo que não sabia mesmo. Quando precisei viajar a serviço, contratei um motorista por 30 dias para me acompanhar e observar se eu sabia guiar um veículo. Sr. Aurélio...muito calminho dizia: “D. Núbia a senhora dirigi muito bem, mas precisa desviar dos buracos”...
Saindo de uma loja, onde tinha estacionado na época meu fusca branco, abri a porta, sentei no banco e bati a porta: Só aí me dei conta que o banco do carro não era o meu. Neste outro carro não tinha nenhuma maçaneta das portas nem dos vidros. Tudo fechado fiquei presa, fazendo sinal para quem passava na calçada para abrirem a porta por fora. Fiquei uns dez minutos até que apareceu um voluntário. Meu fusca estava atrás.
Vindo da Faculdade, havia uma carreta estacionada numa rua deserta, achei distraidamente de passar entre a carreta e a parede, somente depois percebi que estava muito escuro, no meio me bati com um homem que me agarrou pelas costas e eu num golpe mágico, joguei o homem no chão. Ainda saí caminhando e só fui correr na avenida iluminada...
Outra vez na rodoviária entrei num ônibus que ia para Candeias lado oposto de Camaçarí que era meu destino, Uns 60 quilômetros. Durante toda viagem eu via a linda paisagem e dizia para mim mesma. “Veja só! passo todos os dias por aqui e somente hoje estou vendo a beleza desta paisagem”. Quando o ônibus estacionou me vi numa rodoviária completamente desconhecida... era de Candeias...
Num Congresso uma vez na hora do intervalo joguei cinza de cigarro no copinho de café de um senhor, super educado... Ela puxava o copinho e eu ia com o cigarro em busca...Que vergonha!
Um dia D. Vera quis almoçar fora e me convidou para uma comida à quilo. Já com a bandeja, com o prato, uma sobremesa e um copo de suco, tropecei numa cadeira, sai rodando segurando a bandeija de uma lado para outro, desviando aqui e ali e dos que já estavam sentados e terminei caindo exatamente na mesa que o Professor estava sentado. Ele dizia para mim: “Não fale comigo, eu não te conheço”. Enquanto D. Vera tentava apaziguar a situação meu coração batia a mil por hora.
Um dia no Banco ao estacionar o carro o Professor disse: Saia com cuidado, logo aí tem uma boca-de-lobo. Bem ele não fechou a boca, eu havia caido dentro.
Engraçado foi na rodoviária esperando revelar umas fotos. Sentei-me numa mesa. Sentou um rapaz também nesta mesma mesa tomando uma cerveja em lata e um sanduíche. Quando me levantei, levei cerveja, com sanduíche, mesa e tudo. Aí o rapaz falou numa graça: É um furacão? Eu morri de rir.
Abro a porta do nosso apartamento, esqueço a chave na porta e depois quando entro fico louca procurando a chave. Já achei carteira de cigarro no congelador. Feijão, arroz e carne que faço sempre tem gosto de queimado. Já cheguei no trabalho com touca na cabeça, E um dia, chegando no trabalho, ar condicionado forte, sentí um frio diferente debaixo da saia, aí foi que me dei conta: esquecí de vestir a calcinha.
Para controlar essa maluquez, criei hábitos com tudo. Contar as bocas do fogão antes de sair para ver se tem alguma aberta. Antes de abrir a porta para sair, confiro se estou vestida, para entrar no carro confiro a placa,, etc.
Só sei viver nesta velocidade... Tenho que puxar vez em quando o meu freio de mão em tudo.
Este é o meu lado maluco e disperso. Já ouviu aquela música que diz: O ACASO VAI ME PROTEGER ENQUANTO EU ANDAR DISTRAIDO...
É bom a gente passar pela vida sem se ligar muito nas coisas...A vida vai passando e a gente também na velocidade da nossa adrenalina. Muito devagar cria monotonia, tristeza. Na velocidade a gente anda mais, conhece mais coisas, agita, Muito devagar a gente enferruja, cria limo.

terça-feira, 18 de março de 2008

Um presente muito especial

Somente quem gosta de escrever, sabe o que representa receber de presente um notebook. Para comparar, é como se eu, aos 7 anos de idade, tivesse ganhado a minha primeira boneca. Confesso que foi assim!
O detalhe mais importante deste fato, foi o gesto de amor do filho. Para uma mãe nem se pode medir tamanha felicidade. Nem fiz conta do que custou, pois eu mereço e dinheiro bem empregado é aquele que contribui para a nossa paz. Considero a felicidade dos meus filhos quando fazem algo para me ver feliz, igualzinha a felicidade que sinto quando recebo. Feliz deles que têm ainda uma mãe para sentir o prazer em agradar e eu como mãe sou muito grata por ter filhos tão generosos.
Sempre demonstrei o amor pelos meus filhos de forma exagerada, errei por excesso de amor e abdiquei muitas coisas durante a minha vida, para preservar a nossa amizade, respeitando a individualidade deles, mesmo quando ainda crianças. Fui mais amiga que mãe. Confiei a Deus o difícil papel de protegê-los dos perigos, já que eu estive trabalhando muito ausente de casa, mas nas poucas horas de convivência procurei estar com muita qualidade, compartilhando bons momentos, dividindo os problemas também e repassando meus conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Conversamos muito, sorrimos de coisas bobas, brigamos sem receios, dançamos, passeamos, fizemos milhares de planos e nos momentos difíceis estivemos sempre muito unidos, sentindo as mesmas dores, cada um querendo poupar mais o outro. Disso eu me sinto orgulhosa. Cada um de nós, muito cedo, teve que tomar seu rumo. Fomos acostumando a viver cada um pro seu lado. Não existe cobrança, nem mágoas caso caia no esquecimento as datas de aniversários... e nem obrigatoriedade para se estar contando tudo que se passa na vida de cada um, ou visitando um ao outro com freqüência regular, mas a certeza de que o nosso amor é grande e que somos uma família de verdade, para estarmos juntos no que der e vier, não temos nenhuma dúvida!
Como toda mãe, diariamente quero saber onde eles estão, o que fazem e aproveito na ligação para abençoar os meu queridos filhos, netinha, genro, norinhas e sempre repetindo a mesma frase: “EU TE AMO!”
Muito obrigada meu amado filho Jorginho!
Núbia Parente – 18/03/2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

QUIMIOLUMINESCÊNCIA

Para mim tem uma coisa, que dá mais vida, que qualquer coisa vivida। E essa coisa é a poesia!

Existe um fenômeno da quimioluminescência, que acontece comigo, sempre que o amor me provoca alguma reaçãओ química: EU ME SINTO ILUMINADA.

Veja esta de Machado de Assis:

Círculo Vicioso

Bailando no ar, gemia inquieto vaga-lume:
"Quem me dera que eu fosse aquela loira estrela
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!"
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:

"Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna ou gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela"
Mas a lua, fitando o sol com azedume:

"Mísera! Tivesse eu aquela enorme, janela
Claridade imortal, que toda a luz resume"!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:

Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta luz e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vaga-lume?"...
____________________________________

E eu inspirada, como estou, quero responder ao Sol...

" Sol! melhor que ser um vaga - lume, é ser Núbia que não deseja ser uma estrela e muito menos deseja ser um sol, pois ao sentir o amor no coração, एस्ते provoca uma quimioluminescência e da sua luz, ela mesma se ilumina e se contenta ".
Núbia Parente - 13/03/2008



quinta-feira, 6 de março de 2008

VIDA

Seja a vida cor de rosa
Ou seja uma cruz de espinhos
Vou cantar em verso e prosa
As pedras dos meus caminhos.

Nubia Parente, 06/03/2008

quarta-feira, 5 de março de 2008

SAUDADE

Quando esta saudade mostra teu rosto
Neste silêncio triste de sua ausência
A vida fica sem sal e sem gosto,
Sem norte, sem sul e sem referência.

Quando nas lembranças você aparece
De olhos sorrindo, querendo ficar
Mais tempo, enquanto seu abraço me aquece
É tanto amor que nem sei te explicar!...

Mesmo por um minuto te quero
E por uma vida inteira te espero
Por favor! Não esqueça de mim...

Vivo regando a esperança do amor
A sentir esta saudade sem dor
E no meu coração, um querer sem fim.

Nubia Parente, 05/03/2008

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

MINHA MÃE

Através dos olhos da minha mãe, comecei a perceber o mundo.
O mundo de minha mãe era muito rico. Educada em colégio de freiras, entendia de muitas artes, música, culinária, bordados e costura. Falava de obras de pintores famosos. Leu José de Alencar, Machado de Assis e tantos outros. Cantava com uma voz, como se fosse numa ópera e sabia nomes de famosos consertos. Muito culta era assídua na leitura de revistas: O Cruzeiro, Manchete e até o Pasquim o que lhe fazia ser diferente de outras mães que conhecia. Era justa e enérgica quando defendia suas convicções, muito humana e inteligente. Era “feinha”, baixinha, pescocinho enterrado, narizinho pequeno, lábios finos, sobrancelhas espessas, pernas grossas, seis pequenos, cintura fina, bumbum arrebitado, elétrica no andar e sempre têve o cabelo curto conservando desde a sua juventude o mesmo penteado. Tenho orgulho dela me ter confiado, algumas vezes, uma tesoura para cortar o seu cabelo. Era vaidosa, cuidava bem dos cabelos, das unhas e do seu corpo usando bons cremes. Adorava perfumes e camisolas. Tinha a alegria como meta de vida apesar de “ neurastênica” conforme papai falava com graça para definir um lado impaciente de dona de casa. Contava os casos dos infortúnios de sua vida com muita graça e bom humor. Sabia decorado e sempre lembrava as datas de aniversários dos 12 irmãos, cunhadas, sobrinhos, primos, amigos e colegas de trabalho. Quase todos os dias, amanhecia dizendo: “ Hoje é o aniversário de fulano... Ah! se eu fosse gente... mandaria um telegrama!... ”. O seu pessimismo com as coisas boas que pudessem lhe acontecer chegava a ser mesmo pitoresco. Costumava dizer que no seu enterro ia contratar umas meninazinhas para chorar por ela. Em contra partida, o otimismo que passava para os outros era contagiante. Católica, rezava o terço todos os dias em família. Nunca foi de trabalhar muito. Sempre têve sua equipe de cozinheira, lavadeira, engomadeira e faxineira para a limpeza mais pesada. Nunca nos ensinou prendas domesticas e era muito impaciente nas tentativas. Obedecia uma rotina de vida. Pela manhã ensinava, depois do almoço dormia, o banho das 3 da tarde, o cafezinho com leite, a cadeira de balanço na calçada à tardinha, o jantar com todos reunidos na mesa era uma imposição e na noite novamente na calçada se balançando na cadeira rodeada da vizinhança que adorava ouvir suas engraçadas histórias e dar muitas risadas. A sua personalidade era forte, nunca se deixou enganar a não ser quando a bondade de papai interferia. “ A palavra final é de Niní “ isto ela repetia sempre em reverência ao homem que foi o amor da sua vida. Aprendi a respeitar esta mulher e com o passar dos tempos fui lhe chamando carinhosamente de Dona Renota para demonstrar o grande amor e respeito que lhe tinha.
Eu sempre a tive como exemplo. Coisas marcantes até hoje determinam minhas ações na vida. Costumava dizer “ Eu sou águia “. Nunca pude esconder nada da minha mãe. Ela sempre estava adiante de mim. Quando lhe indagava o que é ser águia ela respondia: Ser águia é captar coisas do ar.
Quantas coisas estão guardadas nas minhas lembranças!... como se o tempo não tivesse passado... Lá em casa, éramos em cinco, mas na mesa sempre tinha um sexto lugar ocupado. Eram sobrinhos, irmãos, primos e órfãos da redondeza que minha mãe “ adotava” com a missão de acolher, educar e preparar para vida. Vale lembrar alguns como Mendo sobrinho de papai (hoje sogro do meu irmão). Henrique, que a gente chamava de Rico, também sobrinho de papai. Mamãe fazia sermões intermináveis contra o cigarro que Rico fumava, mas nunca deixou faltar “seu cigarrinho desse vício miserável”, como dizia ela. Depois chegou seu irmão para ocupar este sexto lugar. Tio Fernando veio para encher também a nossa casa de alegria e a partir daí muitos outros tiveram a oportunidade de receber os conselhos, o afeto e o amor de mamãe para levar para a vida e nunca mais esquecer. Neste sexto lugar passaram mais de 15 pessoas.
Professora por vocação, ensinava desrespeitando algumas regras da didática que entendia como modernidade. Muito carismática era muito querida dos seus alunos e ganhou uma homenagem de ter um Prédio Escolar com o seu nome. Alfabetizar o seu filho caçula foi uma missão impossível repassando para a Professora e dizia: “ O menino é analfabeto! Nem sabe ler e nem escrever. “ E tome cocorote na cabeça de Julião, com uma aliança que pesava uma tonelada. A sirene da escola tocava as 12 horas, mas ela sempre terminou seu expediente às 11:30 horas. Batia os dedos com a mão em punho na mesa, dizendo: “ – Doa em quem doer. Goste quem gostar! “
Mamãe foi uma mulher apaixonada pela simplicidade. Chorava no mesmo tempo que ria. A emoção lhe brotava nas pequenas coisas. Tinha muita inspiração para demonstrar o seu grande amor por papai, nas poesias, nas letras de músicas que adaptava às músicas de Roberto Carlos e nos apresentava como novidade quando chegávamos para visitá-la na fazenda. Confiando sempre na sua boa memória foi uma pena não ter registrado. Nelas estavam os seus lamentos, as suas recordações, os seus sentimentos e a sua alma.
Mamãe gostava de colocar o nome “diabo” no meio das suas frases resmunguentas. Então no dia que amanhecia com saudade de papai, nada lhe servia. Um belo dia, ela começou cedo e Tio Fernando começou a contar os “ diabos” que ela dava. - “ Niní é um diabo desalmado, nem lembra que tem um diabo de uma mulher e tudo por causa do diabo daquela fazenda... No fim das contas Tio Fernando contando, vinte, vinte e um, “ aí quando mamãe ouviu, perguntou: “ Que diabo de brincadeira é essa Fernando?! E tio Fernando: - vinte e dois... e ela: Vá pros diabos Fernando: E ele: - vinte e três...Aí ninguém agüentou e explodimos na maior gargalhada como ela sabia dar de forma tão solta e descontraída. O diabo desta história ainda rola até hoje nas rodas alegras de nossa família.
Quando não agüentou mais a saudade de papai, decidiu ir morar na fazenda com ele e lá viveu por mais 15 anos. A partir daí suas lágrimas foram com saudade dos seus filhos e netos. Tinha uma fé inabalada por Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Costumava rezar sempre em voz alta. Eram momentos sublimes de orações espontâneas citando nomes de todas as pessoas queridas e intercedendo também pelas mais necessitadas. Seu maior sentimento na vida foi ter perdido sua mãe aos sete anos de idade e quase não tinha nenhuma lembrança guardada de ter experimentado um carinho materno. Dizia que não sabia o que era ter uma mãe. Só Deus lhe deu a sabedoria de ter sido a melhor mãe do mundo.
Para matar nossa saudade, já aos 70 anos, enfrentava mais de trezentos quilômetros num desconfortável ônibus, chegando num taxi abarrotado de sacos de feijão, milho verde, mangas, pamonhas, doce de leite, qualhada, nata, cocada de amendoin e por diversas vezes vimos o dia clarear colocando as novidades em dia. Tinha uma resistência física impressionante. Tinha hábitos modestos na alimentação: arroz com feijão, uma bilantinha de carne, café com leite, pão, frutas, queijo e seu prato predileto era galinha ao molho pardo e vez em quando gostava de beber uma taça de vinho. Não tomava remédio nem sentia nada que justificasse estar indo para médicos.
Adorava ver a casa cheia de filhos, netos, genros, noras, irmãos, etc. Ninguém jamais que já tenha ido até ela, esquece as calorosas e alegres recepções. De braços abertos gritava “ Oh! Meu Deus que riqueza, meu querido, minha amada! Vem ver Niní quem está chegando...” No passar dos dias somente a presença divertida, alegre, engraçada, risonha de minha mãe, preenchia todas as lacunas de solidão de uma roça sem luz, sem água e sem o verde na época da seca que ela optou para viver pertinho do seu grande amor.
Minha maizinha querida! Quantas coisas eu ainda tenho para contar sobre a sua brilhante passagem nesta terra. As lágrimas turvam a minha visão e vão descendo para cair neste papel, como se fosse um rio de lembranças seguindo no tempo para não mais voltar. Hoje quando olho para o firmamento, procuro a mais linda e brilhante estrela do céu na tentativa de te encontrar... - nem mesmo, minha mãe, a estrela mais linda do céu é você.
Núbia Parente -

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A LUA DE MEL DO MEU TIO

Querido leitor amigo,
Conto com todo respeito
O que se passou comigo
E um casal do meu peito
Em plena Lua de Mel:
Foi doce pro be-le-léu
E todo plano desfeito.

Quem nunca se viu, um dia,
Se levar pra lua de mel,
Num jipe, que nem cabia,
Papagaio e farnel,
Tudo lá pra casa tinha
Sem esquecer a farinha
E a munição do quartel.

Nem imagina Doutor!
Tem ainda uma coisinha...
Sei que foi só por amor,
Além de tudo que vinha.
O tio perdeu a cabeça
Por mais incrível pareça,
Levou também a sobrinha.

Parecendo uma jagunça,
A bichinha inocente,
Entre a bagagem e a bagunça
Estava toda contente
Pensando ser lua de mel,
Um doce que cai do céu
De um tacho no fogo quente.

A sobrinha era eu
Nos meus bons 16 anos.
Foi muito orgulho o meu
Está também nestes planos.
Pra hoje contar a história
Pois escapei com vitória
Com todos meus desenganos.

Nas terras de Lampião
Caatinga pra dar com paú,
Sem uma folha no chão,
Nem uma rês no quintal,
Sem água pra se beber
Só tinha um de comer
E um punhado de sal.

Doutor foi um sofrimento
Ver meu tio suar tanto
Puxando por um jumento
Pra buscar água num canto.
O Vasa Barris tava seco
Pra plantar não tinha esterco
E só “nóis lá” por encanto.

Minha tia bem jeitosa
De Crepon ela enfeitou
O quarto e fez gostosa
A comida e ajeitou
Na mesa a sopa quente
Do lado uma aguardente
Tudo feito com amor.

Meu tio todo sentado
E a sopa quente no prato
Ele estava esfomeado
Se sentindo muito grato
Se não fosse a mosca tonta
Que caiu, morta e pronta,
Ele quase têve enfarto.

Corre doida minha tia;
Leva o prato pra cozinha;
Raspou panela vazia
Mas trouxe outra sopinha...
Duas moscas vêm de lá,
Cai aqui, cai acolá,
Na sopa tão gostosinha!

Meu tio correu nervoso.
Eu disse: Vai se matar!
Com um berro estrondoso
Abriu a boca a gritar:
“ Eu sou mesmo um condenado,
Um cachorro desalmado!
Vou dormir pra me acalmar”.

Quando se ouviu o trovão!...
Lá vem uma tempestade
Parecendo um furacão!
- Vamos correr pra cidade
O rio seco transborda
Não se passa nem de corda
Meu Deus, tenha caridade!

Pra arrumar tanta bagagem
Ligeiro em poucos minutos,
Era preciso coragem
Baforando os charutos
Meu tio pegou o jumento
Que ganhou no casamento
Acoitando em gestos brutos.

Como agüentava o Jegue
Se o jipe quase virou?
Mais um fardo e um esbregue
Aí o Jegue arriou...
Parecia estar morto
Caiu com pescoço torto
Deu um gemido e parou.

- Frei Damião nos socorra
Padim Ciço, me ajude!
Antes que esse jegue morra
“ Nos travesse” no açude.
Nós aqui nesta peleja,
Sobe o rio, relampeja,
Eu já fiz tudo que pude...”

O pior tava por vir
Desespero e loucura
Este jegue a cair
E a noite bem escura,
A correnteza arrastando,
A rede quase ficando
E água pela cintura.

Nesta hora não se sabe
Se salva a tia ou o jegue,
Mas isto, a meu tio cabe!
Só sentia água fria
E vontade de viver.
Deus é por nós, pedes crer!
Se não fosse “ nóis morria”!

De outro lado do rio,
Sentamos pra descansar
Coitadinho do meu tio...
Minha tia a desmaiar,
O jumento já pastando
O dia já clareando
Era hora de voltar.


Olhei minha Tia com pena,
Pois toda mulher um dia
Sonha com noite plena
De cores e fantasia
Mas com tanto sofrimento
De nós e até do jumento
Estava acabada a alegria.

Esta história a gente conta
Quando reúne a família
Nossa tia é uma santa
Seu apelido é Amélia
Professora competente
Uma mãe mais que presente
Merecia uma corbelha.

Meu tio é o Poeta
“Portador” de Castro Alves,
Coincidência completa
Superando os entraves
Segue firme a sua luta
Ao seu coração escuta:
Sabiás são mais que aves!

Obs.: Esta história é verídica. Somos da família Sabiá. Aconteceu em fevereiro de 1969. A fazenda era na região de Jeremoabo - Bahia. Caíram na sopa do meu tio, nesta mesma noite, mais uma mosca e foram três pratos de sopa perdidos. O casamento do meu tio dura até hoje. No fim das contas, quem escuta este cordel já está devendo R$ 3,oo e pode levar o livreto de cortesia. Esse dinheiro é pra pagar o funeral do jegue, que já deve ter morrido, mas merece também nossa homenagem, coitadinho...

Núbia Parente – SSA 24/02/2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

CORDELISTA

Depois que sou cordelista
Minha vida é dar rizada
Como se fosse turista
De uma viagem encantada
No verso tem emoção
Que alivia o coração
Quando a cruz é tão pesada.
Núbia Parente - 2006

“Minha Hora 3”

“Minha hora” é outono...
As folhas estão no chão
Rabiscos de solidão,
Me fazem perder o sono!

“Minha hora” é inverno,
Sem você tudo é tão frio
O que escrevo é sombrio
E fica no meu caderno.

“Minha hora” é primavera!
Vai nascendo a poesia,
Escrevendo fantasia,
Porque agora te espera.

“Minha hora” é verão!
Trazendo seu corpo em brasa,
Por sobre o meu extravasa.
Juntos, adormecerão.

Nubia Parente - 2006

"Minha Hora 2"

"Minha hora" é um sol...
Acorde de um coração!
Si, lá, dó, ré, mi, fá, sol
Vem cantar esta canção.

Ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
"minha hora" me fascina
Vou dançar o meu xodó
Com jeitinho de menina.

Tra, lá, lá tra lá lá lá,
De alegre vou cantar
Si, dó, ré, mi, fá, sol, lá
Soletrando o verbo amar.

Vou fazer um cafuné
"Minha hora" tem carinho,
Mi, fá, sol, lá, si, dó, ré
Vou cantando bem baixinho.

Pense calado pra si
Tudo o que pode pensar
Dó, ré, mí, fá, sol, lá, si,
Eu não vou me importar.

Vou fazer um bafafá
Se em vez de beijar, morder
Sol, lá, sí, dó, ré, mi, fá
Eu vou mandar te prender.

Só está faltando o " mi ",
Pra acabar a " minha hora"
Fá, sol, lá, sí, dó, ré, mi,
E voltar a ser senhora.

Nubia Parente - 2006

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

UMA FOTO ANTIGA



Quase 40 anos que não nos víamos e de repente em minha frente estava uma querida amiga de infância, Conceição Vieira, trazendo uma foto minha, antiga, em preto e branco, dos meus 12 anos de idade. Este reencontro foi um momento de muita emoção para nós duas! Adicionar imagem
A foto me fez lembrar, de imediato, outra foto da capa de um livro de sonetos da poetiza portuguesa, Florbela Espanca. E com muito bom humor, coloquei logo um apelido na minha foto: Nubela Pancada! o que me fez explodir em gostosas gargalhadas.
Olhando a foto embarquei numa viagem de volta ao passado. Cheguei mesmo a sentir o meu estado de espírito daquela época. Eu me vi aos doze anos com tudo que sentia de mim mesma e da forma como nesta ocasião percebia o mundo e as coisas da vida.
A foto 3 x 4 mostrava o rosto redondinho de uma menina pura, de olhar meio tristonho, olheiras profundas e escuras e os cabelos cortados na altura das orelhas. O detalhe do cabelo cortado me transportou para o exato dia que decidi cortar meus longos cabelos por insistência de mamãe. O desespero que fiquei no espelho a me achar a pessoa mais feia do mundo, o choro incontido ao entrar em casa e a recepção consoladora de mamãe a me dizer que eu estava linda de cabelo cortado, causou-me uma saudade que não saberia aqui descrever.
Eu sempre fui muito alegre, mas na foto, o ar de tristeza no meu olhar transparecia os conflitos da minha adolescência nesta fase dos 12, 13 e 14 anos. Um dos maiores conflitos era definir se eu era uma moça ou ainda uma menina. Não existiam roupas que se ajustassem no meu corpo com naturalidade, no meio termo de menina-moça. Diante do espelho a roupa ou era de menina e eu me via uma moça ou de moça e eu me via ainda uma menina. Para sossegar meu coração muitas vezes preferia não sair e guardar os segredos dos meus conflitos. Eu não entendia também porque todas as minhas coleguinhas, até as mais novinhas, já haviam “ficado moças” e eu não. Este era outro segredo que me angustiava e eu não sabia com quem dividir. Anos depois, um dia, amanheci sentindo uma forte dor no pé da minha barriga, outra nas cadeiras (como se falava) descendo pelas pernas, náuseas e mais um bocado de incômodos. Daí foi que eu fui constatar que o que eu tanto desejava acontecer comigo, era uma coisa tão desagradável... Mas, mesmo assim, botei a boca no trombone e a cidade inteira ficou sabendo da novidade.
Por incrível que pareça com 12 anos eu já namorava um menininho desde o jardim de infância. O nome dele era João. Ele tinha uma caixa de sapato cheia de bilhetes que eu mandava para ele, durante os 5 anos de bilhetes pra cá e bilhetes pra lá... Esta caixa de bilhetes ficou mais de 20 anos guardada por uma tia dele. Ele eu não mais vi. Ele estava na igreja no dia do casamento da minha filha, convidado pelo meu genro seu colega de trabalho e ele me reconheceu logo que entrei . Foi pura coincidência! Quando eu soube tive vontade de ir até onde ele trabalhava. Quando nos vimos, sentimos a alegria do reencontro, mas ele não mais se parecia com o menininho dos bilhetes que ficou na memória dos meus amores mal resolvidos.
A foto me fez lembrar, a minha gravata da farda toda ruída, meus coleguinhas do primário, meus professores, a escola, a praça, as festas de agosto e a cidade de Cícero Dantas, onde nasci e lá vivi 16 anos.
Desta menina da foto eu carrego os sonhos, o gosto de escrever cartas e o hábito de acordar feliz com os passarinhos. Em vez de inventar uma mentira para contar todos os dias como fazia quando menina, hoje eu me sinto feliz quando escrevo contando belas histórias, verdadeiras, da minha vida .

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

FUMANTE

Fumei pensando na vida.
Fumei pra esquecer a morte.
Foi tanta fumaça fedida...
Hoje estou viva por sorte!

Fumei muito toda hora.
Fumei até de pirraça.
Chamavam-me de caipora,
Outras vezes de fumaça.

Fumei sem temer doença.
Fumei também de arrogância.
Talvez por ignorância
Quem é fumante, não pensa!

Fumar é devastador!
Agradeço ao Criador,
Por ter ainda pulmão.

E pra ficar bem cheiroso
E dar um beijo gostoso:
Largue o vício meu irmão!

Núbia Parente – Abril/2007

DRICA

Pra atender aos seus apelos
De ficar bonita assim,
Empresto os meus cabelos
E tudo que existe em mim.

Núbia Parente – Junho/2007

DONA JULIA DE RIAÇÃO

Quero contar uma história
De uma mulher vencedora.
Cada dia uma vitória
Sem estudo ela é doutora,
Movida por sentimento
Fez também um juramento,
“Sem bisturi... e tesoura!”

Uma mulher de verdade
que só mede um metro e meio,
Setenta anos de idade,
Veloz, esbarrou sem freio
No leito do “doentinho”
Dizendo com seu carinho:
“Vai ficar bom! Pois eu creio!”

Seu olhar é de esperança
De sorriso iluminado
Com muita fé, ela alcança,
O que for mais complicado
Transporte p`ras capitais,
E vagas nos hospitais,
Pra quem tá adoentado.

Diz Dona Júlia do Posto
de Saúde de Riaçhão:
“Trabalho com muito gosto,
Do fundo do coração.
Não deixo doente atôa
Indo a nado ou de canoa,
Ou numa estrada de chão.

Doentes pra Dona Julia
Vão surgindo de montão.
Ela diz que “ vem de dúzia,
em cima de um caminhão”.
Todos gemendo baixinho
Debaixo do seu carinho
E da sua proteção.




Êta que mulher guerreira,
Um anjo nesta cidade,
Desde mocinha faceira
Assiste a comunidade.
Herdou do seu pai querido,
Tratar quem estar ferido
Com amor e fraternidade.

Imagine seu doutor
Dona Júlia tão franzina
Toda cheia de amor
Junto com a medicina...
Dar sorriso e esperança
“ligeirinha” ela não cansa,
Desde os tempos de menina.

Sem saber ler e escrever
Se sentindo excluída
Quis as letras aprender
Pra melhor ser assistida
Hoje freqüenta a escola
Para idade, não dá bola.
Vai seguindo sua lida!

Tem muitos filhos formados.
Doutores é o que mais tem.
São médicos, advogados
E enfermeiros também;
De Deus recebeu vitória
Para Júlia a maior glória
É poder fazer o bem.

E quanta força ela tem...
Nem se queixa de doença,
Viaja sem um vintém
Seu alimento é a crença.
E ver os necessitados
Nos hospitais internados
É a maior recompensa!







Pede as autoridades,
Apela pra Prefeitura,
Pede a todos da cidade:
Ajude essa criatura!
Pede com muita emoção
Quando no caso, é caixão,
Para os que não têm mais cura.

Nunca gostou de política
Mas em época de eleição,
Depois de apurar a crítica
Decide com o povão
Votar em quem tá mais forte
Pra não brincar com a sorte,
E não dar seu voto em vão.

Para ser vereadora
O convite ela aceitou
E respondeu a doutora:
“ Eu serei sempre o que sou!
Mas eu peço a minha gente
seja apenas consciente:
Veja quem mais lhe ajudou!

A todos de Riachão
Fiz aqui os meus pedidos.
E quando Outubro chegar
Sintam-se comprometidos
Com a sua consciência:
Vejam quem dá assistência
Aos seus entes mais queridos.

Neste cordel eu narrei
Um pouco de sua história!
Dona Julia, em sua terra,
É um sinônimo de glória,
Pois já nasceu vencedora
E fazê-la vereadora
É a nossa maior vitória!
Núबिया Parente

TROVA

Um brinquedo, um amor,
Um sonho, uma fantasia...
Na vida tem o sabor
De uma trova com poesia.
Núbia Parente – Julho/2007

ANA BRABA E ZÉ ZANGADO

No Cordel, leitor amigo,
Também se aprende lições
Pra nos livrar do perigo
Que causam as tentações
Do mundo, a nos convidar,
Confundindo o verbo amar
Maltratando os corações.

Sem pensar que casamento
Fosse mais que uma escolha
Ana tinha em pensamento
Viver ao léu, feito folha.
Um casamento é divino
Uma escola, esse menino!
E justo, como uma rolha.

Seu doutor essa história
Tem tudo de verdadeira
De luta e de vitória
E também de brincadeira
Como todo casamento
Ana fez o juramento
De viver a vida inteira.

Ana jovem displicente
Zé também um meninão
Neste mundo inclemente
E também sem coração
Dando rumo às suas vidas
Foram cavando feridas
Sem prumo, sem direção

Ao casal intempestivo
E por demais complicado,
Faltava adjetivo
Para ser classificado:
Ana Braba e Zé Zangado
Foi o mais apropriado
Para assim lhe ser chamado.

Na Bahia nasceu Ana
Filha de uma cearense
Cara de pernambucana
Lá na cidade Feirense
Esbarrou em Zé Zangado,
Foi seu coração roubado
Pra seu espanto e suspense.

Zé zangado era gaúcho
E também caminhoneiro
Trazia faca no bucho
Parecendo cangaceiro
Quando Zé olhou pra Ana
Pensou: que mulher bacana!
Deve ter muito dinheiro.

O pai de Zé, na fronteira
Percorria o mundo afora
Carreta na ribanceira
Pro coração não tem hora
Deixou viúva e sem trilho
Órfão seu único filho,
Nas estradas ir embora.

Ana não tinha dinheiro
E dava tudo que tinha
Ajudava o mundo inteiro
Era muito boazinha.
Mas se mexessem com ela
Voava pela janela
As panelas da cozinha

Ana estava no trabalho
Matutando em pensamento:
Se não casar eu encalho
Fez até um juramento.
Se Príncipe ele não for
E coração cheio de amor,
Casar era um tormento.

Num dia de micarêta
Com o caminhão quebrado
Zé consertando a carreta
Sem dinheiro e preocupado
Foi ligar da telefônica
Encontrando Ana afônica
De tanto já ter brincado.

Ana, a telefonista
Foi quem fez a ligação
Zé que era motorista
Já lhe fez indagação
O seu nome perguntou:
Madalena, ela falou.
Zé gravou no coração.

Pra falar com Madalena
No outro dia Zé chegou,
Era uma manhã serena
Na Matriz ele parou,
Pra Madalena jurava
Que ali ele se casava
E na hora, ela aceitou!

Valeu-me Nossa Senhora
Começou a confusão.
Como desfazer agora
A mentira e a ilusão
Madalena era Ana
E agora! Zé se dana
Depois dessa confissão.

Ana era mentirosa.
Esse era seu defeito
Mas por ser tão carinhosa
Zé já se sentia refeito
Era só uma mentirinha
Que engolindo com farinha
Não fica mágoa no peito.

Ana se apaixonou
Com o gesto de perdão
Pois no fundo ela pensou
Zé tem um bom coração!
Ana logo se apressou
A família apresentou
Pra Ze pedir sua mão.

Indo embora já com pressa
Zé jurou! Que voltaria
E Ana acreditou nessa,
Alegre esperaria,
Fazendo seu enxoval,
Pois antes do carnaval,
Com Zé, ela casaria.

Sem ninguém mais esperar
Chega Zé com a mudança
Doidinho pra se casar.
Ana cheia de esperança
Sem fazer vestido branco
Dizendo com jeito franco
Casarei mesmo sem dança.

Era como Zé queria
Sem festa e confusão
O casamento seria
Na igreja pra benção...
Na Matriz do juramento
Zé fez o seu casamento
E Ana sua comunhão.

Ana era uma donzela
Pra Zé, Ana era sem par,
Toda pura era ela,
Se não fosse o gênio dela
Que Zé teve que enfrentar
E a Ana suportar?
A vida seria bela.

Ana alegre escandalosa
Zé triste vivia no tédio
Ana só fazendo glosa
Triste Zé, não tinha remédio
Só gostava da estrada
Com sua camisa listrada
Cada parada, um assédio.

Zé não se intimidou
E Ana que era uma fera
Logo, logo engravidou
Trabalhando se esmera,
Desejando uma menina
Comprando já coisa fina,
Cor de rosa, à espera.

Mas o Zé só desejava
Que nascesse um menino
E de azul só comprava
Pra nada ser feminino
Sua sogra tão bondosa
Pra não ver Ana chorosa
Desfazia o desatino.

Seja homem ou mulher,
Dizia a sogra sorrindo,
Metendo a sua colher,
Todo filho é bem vindo!
Vou comprar roupa amarela
Pra evitar essa querela,
De Ana e Zé se consumindo.

E lá na maternidade
Nascia uma princesinha
Para o bem da humanidade
Uma linda menininha
Pra Zé uma decepção
Pois queria um varão
Para o nome que ele tinha.

Disse Ana: que trovejo!
Zé querer perpetuar,
Aproveitando o ensejo
Seu nome multiplicar.
Da família é tradição
De geração em geração
Um nome "Luis" lhe dar.

Ana alheia, nem imagina...
Isso era importante,
Mas se veio uma menina
Não era de forma errante
Era a primeira lição
Que sem Deus no coração
É a vida que ensina.

Bem mais triste é imaginar
O que Ana não sabia:
Quem edifica o lar?
Era a Ana que cabia,
A Zé lhe ser submissa
Rezar e frequentar missa
Pra deixar de rebeldia.

Zé outro filho queria
Pra São Jorge fez promessa,
Sem pensar como seria,
Bonzinho, a Ana confessa.
Se abraçando, bem contentes
Ana diz abrindo os dentes
Vamos fazer um depressa.

Quando o menino nasceu
Ganhou o nome do santo
Ana quase que morreu
No parto e de espanto
Zé não fez aquela festa
Ficou lá com a mão na testa
Muito alegre por enquanto.

Parecia preocupado
Já dois filhos pra criar
Estava desepregado
Só Ana a trabalhar
E isso não era só
Muito aperto de dar dó
E Zé nervoso a brigar.

Era uma vida dura
Ana perturbando Zé
Endoidando a criatura
Logo depois do café
Pra ir procurar emprego
Dois filhos, não é brinquedo
E a Deus pedia fé.

Não tardou Ana dizer
Se tremendo de temor
Outro filho vai nascer
E como prova de amor
Da mulher por seu marido
E ao seu filho querido
O seu nome ele vai ter.

Zé quase que desmaiou
Quando soube da notícia
Pois ele jamais pensou
Já que não tinha malícia
Que o que ele mais gostava
Era filho que gerava
Ou um caso de polícia.

Mas o problema danado
De se ter muitos meninos
Era Zé enciumado
Com seus instintos caninos
Não largar o osso de Ana
E de uma forma insana
Deixa Ana a ouvir sinos.

Ana por insegurança
Se largava a trabalhar
Carregando uma criança
Deixando outra a brincar
A vida ia arrumando
Zé agora trabalhando
Tudo agora ia mudar.

No aniversário de Ana
Zé comprou seu caminhão,
Troca de Fusca sem grana,
Só pegava no empurrão
Zé era determinado
E pra pagar o fiado
Sumia no estradão.

De caminhão quebrado
Carburador entupido
Compra de pneu furado
Notas de motor batido
Ana se via arrochada
Olhando para estrada
E muito choro contido.

Quando Ana precisava
Viajar pra estudar
Zé Zangado esbravejava
Jurava de lhe matar
Mas Ana muito teimosa
Embirrenta e corajosa
Não queria aceitar.

Por cima do meu cadáver
Atravesse essa porta,
Zé pegando no revolver
Ana já se via morta.
Gritava na confusão
Já na hora do avião:
“Zé! minha sorte não corta!”

Zé ficava igual um cão
Mas cuidava das crianças
E Ana no avião
Não perdia as esperanças
Saia meio perdida
Sem nenhuma despedida
A desatar suas tranças.

Quando o avião trazia
Ana, tonta de alegria,
Zé fazendo a folia
Crianças na gritaria.
Era beijo pra todo canto,
Era choro e era pranto,
E nada mais se sofria.

Ana ficava feliz
Com um Zé maravilhoso
Era tudo que ela quis
Se não fosse tão guloso
Comia tudo que tinha
Alí mesmo na cozinha
Pois Ana fazia gostoso.

Zé não era ciumento
Ele até era bonzinho
Sem fazer impedimento
Ana tinha seu carrinho.
Levar filhos pras escolas,
Encher ele de sacolas,
Pra desbravar seu caminho.

Ana cheia de faceta
Mas Zé não lhe dava apoio
Dirigia até carreta
La seguindo o comboio
Zé dizia “ na bangela”
Mas Ana freiava ela
Ouvindo canção de aboio.

Que poliana contente!
Ana gostava de tudo
Zé dizia: feche os dentes
Ana grita: fique mudo!
Brigavam o dia inteirinho
Igual como cachorrinho
Mas se amavam, contudo.

Manhãzinha de natal
Era um dia inesquecível
O churrasco no quintal
Era uma festa incrível.
A criançada brincando
O pagode lá rolando
A cerveja imprescindível

Zé se irritava com Ana
Por fazer tudo de vez.
Assovia e chupa cana
Na maior insensatez
Tinha um parafuso frouxo
E o de Zé que era roxo
Imagine a estupidez

Ana dentro da cozinha
Se via muito sem jeito
Se melava de farinha
Tentando fazer perfeito
Depois o bolo queimava,
Em pneu se transformava
Zé colocando defeito.

Quando mais Ana chorava
Pela panela queimada
Aí Zé só provocava
Ana se via atolada
Com mil coisas pra fazer
Zé deitado pra TV
Com a cara emburrada.

Eram tantos afazeres
Pelo tanto que corria
Não sentia mais prazeres
Pela vida que vivia
Com três filhos pra criar
Mil papeis Ana a encenar
E Zé buscando arrelia.

Enfrentava até ladrão
Zé zangado era valente!
Com uma arma na mão
Apontou pro delinqüente
Ana tomou sua arma
Zé disse: Mulher se acalma!
E fisgou o ladrão no dente.

Tomando banho de praia
Passou uma tal gatinha
Mexendo o rabo de saia
E Ana enciumadinha
Disse: se olhar fica cego
Juro por tudo e não nego.
E Zé deu uma olhadinha.

Quando pulou e emergiu
Do mergulho, Zé gritou:
Sua jura se cumpriu
Pois cego eu já estou
Mas foi uma água-viva
Que passava aderiva
E no seus olhos tocou.

Ana se dizia braba
Zé não era gente não
Se Ana diz: a porta abra!
Com o pé ela vai pro chão
E se Zé tivesse dentro,
Quem duvida do elemento?
Em Ana descia a mão.

Lá no chão chorava Ana
Maldizendo da agonia
Zé deitado já na cama
Chama Ana pra folia
Ana toda sem vergonha
Ainda meio tristonha
Esquecia o que sofria..

Se Zé não sabia amar
A Ana e seu topete
Mas sabia perdoar
Sem ficar buscando frete
Ele tinha compaixão
Pois Ana era sua paixão
Coisa que não se repete.

Zé tinha o coração bom
Ana assim reconhecia
Chamava lá a Kibom
Quando o sol entardecia
Zé juntava a meninada
Picolé pra criançada
E Ana feliz parecia.

Todo problema de Ana
Com Zé, o seu bom marido
É porque queria a fama
Do menino bem vestido
Bem forte e educado
Muito bem alimentado
De muito amor preenchido.

Ana tinha o lado dela
Que nem corda amarrava
Quebrou a sua costela
De tanto que suplicava:
Dar ao filhinho dengoso
Um pai doce e carinhoso.
Era aí que Zé brigava.

Ana com toda instrução
Deveria compreender
Que o instinto de brigão
De Zé teve ao nascer.
Cresceu junto com alemão
Que não repartia o pão
Osso duro de roer.

Ana era tão sabida
Mas não queira assuntar
Da forma que Zé entendia
O que é filho pra educar
Ana bruta ignorante
Com filosofia errante
Haja Ana a cutucar.

Era de enlouquecer
Quando Ana só ouvia
“Menino não tem querer,
Hora deles é de dia,
Quero assistir meu programa,
Os meninos vão pra cama.
Nem procure arrelia”

No meio Ana se via
Menino que resmungava
Era muita agonia
Só uma TV não dava
Ana mudava o canal
Na confusão infernal
Zé dali se retirava.

Zé não engolia sapo
Muito menos boi inteiro
Sem conversa e sem papo
Pegou a TV ligeiro
Sacodiu pela janela
E quebrando o vidro dela
Espatifou no terreiro.

Já no dia seguinte
Zé cobria Ana de beijo
Preparava com requinte
Café com leite e queijo
Servia Ana na cama
Dizendo o quanto lhe ama
Saciando seu desejo.

Na tardinha Zé chegava
Fazendo muita festança
Aos meninos entregava
Sem pedido e sem cobrança
Uma TV bem novinha
A cores e bonitinha
Trazendo muita esperança.

Ana rezava num canto:
Muito obrigada Jesus!
E com lágrimas em pranto
Pedia a paz e a luz
Pedia por harmonia,
Pedia sabedoria,
A Deus Pai que nos conduz.

Nas gavetas do papai
Menino não vai bulir,
De olho fechado ele vai
Pegar roupa pra vestir
Ana tinha os cuidados
Mas os meninos danados
Fazia Zé explodir.

Ana não era mufina
Zé trazia na cabina
As Maria gosalina
Cada qual era menina
Ana nem aí pra nada
Zé fazendo coisa errada
Pra seguir a sua sina.

Nisso Ana se perdeu
Não lutou pelo seu lar
Deixou Zé virar ateu
Esqueceu de lhe falar
Que quem não pisa no freio
O buraco é mais feio
E um abismo vai topar.

Já era tarde demais
Zé se foi, esqueceu Ana
Na folia mais e mais
Encontrou uma insana
Que jurou amor eterno
Fez da sua vida inferno
E roubou a sua grana.

De tanto que Ana sofreu
E Zé também, coitadinho
Deixaram de ser ateus
Buscando devagarinho
Conhecer as Escrituras
Que salvam as criaturas
Na procura de Caminho.

Zé sentia bem no fundo
Por Ana ser perdoado
Pois só existia no mundo
Jesus que não tem pecado
Pra Ana foi bom marido
Por sua mulher foi querido
Mas tudo estava acabado.

Zé se foi sem querer ir
E voltava de repente
Tristonho e sem sorrir
Ana já estava ciente
Dele arribar com a mala
Deixando a chorar na sala
Seus filhos, tudo inocente.

Até que Zé se mudou
De vez pra outro lugar
Ana sozinha ficou
Se danando a trabalhar
Ela não pediu ajuda
Aí ela ficou muda
Esperando Zé voltar.

Muitos anos se passaram
Ana muito que chorou
Eles se divorciaram
Depois Ana enviuvou.
Foi seguindo seu caminho
Tendo dos filhos carinho
Foi o que lhe consolou

E assim, leitor amado
Esta história terminou
Como um livro inacabado
Muita coisa inda sobrou:
Deus em cada coração
Um cordel por saudação
E a lição que aquí deixou.

Nubia Parente - Agosto 2006

DESEJO

Eu só tenho um desejo
Que acorda e dorme comigo:
Ganhar da sua boca um beijo,
Abraçadinha contigo!

Nubia Parente - 12/12/07

BOCAS BEIJOQUEIRAS

Além de falar, comer... é também com a boca que a gente beija.
Ah! Como é bom beijar!...
Minha boca de avó beija tanto que uma pessoazinha tão pequena ainda, não comportando tantos beijos, reclama: ! - Que voinha chata!
Minha boca de mãe só vive beijando! Eles também reclamam: - Pára mãe!, Pára mãe!. (no fundo eu sinto que recebem com carinho os meus enjoativos beijos).
Minha boca de sogra... beija com muito amor o genro e cada uma das norinhas como se fossem meus filhos também.
Minha boca de amiga também beija tanto que pode causar mal estar em quem recebe, censura em quem presencia e até ciúmes em alguns casos.
Minha boca de desconhecida, por incrível que pareça, não resiste quando pinta a vontade de beijar e beija causando espanto muitas vezes. Mas eu beijo assim mesmo! Posteriormente esse beijo é reconhecido de alguma forma.
Minha boca de mulher... Ah! Minha boca de mulher beijou pouco! Que pena!...Mas ainda não perdeu a esperança de morrer de beijar ou matar ainda alguém de beijos...
Minha boca de donzela... é uma boca que deseja ardentemente um beijo!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

MINHA HORA

Na " minha hora", eu sou
Livre! Tão bom é viver...
E por você mais eu vou
Por me fazer merecer.

" minha hora " sem minutos...
Tic Tac é coração...
Nem me importa eu escuto
Tudo! mesmo invenção.

Mas tudo tem sua hora,
a minha não é a sua
E sem querer vou embora
Levando minha alma nua.

"momentos" que nem é hora...
Eles que são tão pouquinhos,
Só serve pra quem implora
O que restou de carinho.

O sol fazendo seu trilho
Hora é noite ou é dia
Não deixo perder o brilho
Desta minha vida vazia.

Sou gente, eu sou humana
Que quer o que você quis...
Mesmo com tantos enganos
Não quero ser infeliz...

Nubia Parente - Maio 2006

BEM-TI-VI

Se eu fosse aquele pássaro cantador
Que alegra e enfeita a natureza...
"bem te vi", "bem te vi", saudade é dor
Que inspira o verso quando está presa.

E a saudade chegando de mansinho,
Vai trazendo aquele sonho perdido...
"bem te vi", "bem te vi", canta no ninho
E desperta, o que já está esquecido.

Quem sabe, se vai tocar, por encanto?!
Um coração, que nem imagina o quanto,
Sua saudade me causa emoção.

Se eu pudesse voar... mas, eu só canto!
Toda saudade que vai neste pranto,
Fica guardada no meu coração.

Nubia Parente 11/11/07

Musica linda de Xangai

MANTANÇA
(JATOBÁ)


Cipó caboclo tá subindo na virola,
Chegou a hora do pinheiro balançar,
Sentir o cheiro do mato, da imburana,
Descansar, morrer de sono na sombra da barriguda;

De nada vale tanto esforço do meu canto,
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar,
Tal mata atlântica e a próxima amazônica,
Arvoredos seculares impossível replantar;

Que triste sina teve o cedro nosso primo,
Desde menino que eu nem gosto de falar,
Depois de tanto sofrimento seu destino,
Virou tamborete, mesa, cadeira, balcão de bar;

Quem por acaso ouviu falar da sucupira,
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona, porta, armário,
Morar no dicionário, vida-eterna, milenar;

Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde, da sombra o ar,
Que se respira,
E a clorofila das matas virgens
Destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora,
Não chama Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar;

É caviúna, cerejeira, baraúna,
Imbuia, pau-d'arco, solva,
Juazeiro, jatobá...
Gonçalo-alves, paraíba, itaúba,
Louro, ipê, paracaúba,
Peroba, massaranduba;
Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro,
Catuaba, janaúba, arueira, araribá;
Pau-ferro, angico, amargoso, gameleira,
Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá.

Quem hoje é vivo corre perigo......



Colaboração de Leôncio Pereira Fernandes/NATAL-RN

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Musica DE AMOR É BOM

Canta: Dedé Paraizo
Composição: João Nogueira/Edil Pacheco

Um lindo canto com o gosto de viver
Pintou bonito e ganhou meu coração
Há como é bom viver
É bom viver de amor e até morrer de amor é bom

É bom se ter porque poder pode podar
É bom a gente ter o que ninguém pode ganhar
Saber o que será o dia de amanhã
Comer, beber, dormir, sonhar
E ser um bom vivã

O amor não quer poder
Não quer dinheiro não
O amor não quer beber
O vinho da ilusão
O amor é bem querer
É a fonte da emoção
Então lugar de amor
É mesmo o coração

Esta música ouví ontem no fone sintonizado na Rádio Educadora, 09/02/2008, enquanto caminhava cedinho...

MINHA MÃO POETISA

Minha mão escreve
Contorna meus sentimentos em forma de letras.
Rema no papel minha mão
Guiada por uma forma oculta
Trazendo do meu coração revelações incontidas
Muitas vezes até desconhecidas
E fala coisas por mim
Que eu não saberia dizer
Para me ver feliz!

Minha mão, fiel companheira!
Dizendo da minha solidão,
Tem me consolado...
Falando das minhas alegrias,
Me deixa contente!
Nas minhas tristezas,
Como ela me alivia...
Nos meus sonhos tem me contagiado.
Das minhas ilusõestem me fantasiado...
Nas dúvidas me adverte sempre!
Do meu corpo me completa
E na poesia me retrata.

Núbia Parente - 1984

MINHA QUERIDA MAEZINHA!

Eu fiz esta poesia na capela do Hospital Dom Pedro de Alcântara – Feira de Santana, enquanto se velava o corpo da minha mãe. Era o meu primeiro amanhecer sem ela nesta vida. Olhei pra o mundo e vi umas flores silvestres... passarinhos e um sol nascendo...


Eu catei algumas florzinhas do campo
E depositei no teu coraçãozinho
Com um terço que me ensinou a rezar.
Agora era só o que eu podia te dar nesta vida....

“Você é minha sementinha
Tão cheia de amor e ternura...” foi o que te disse.

Seu abraço sempre foi meu abrigo,
Suas palavras me confortavam tanto...
Seus desejos era só pra nosso bem
E o seu sorriso... era a nossa alegria!

Na simplicidade da nossa despedida, pensei...
“Quanto ricos fomos com a tua presença!”

No meu primeiro dia sem você
Ouvi passarinhos cantando
E o sol novamente se abriu:
Esperança do seu eterno amor!

Mamãe eu sempre vou te amar
E quero te encontrar
Para ser outra vez sua filha
Porque ninguém nesta vida
Foi a melhor mãe que você!

Beijos

Sua filha Núbia – às 4:50h de 03/12/1996.

LAR DOCE LAR

(Eu fiz esta poesia no Dia dos Pais– Novo Hamburgo – RS, quando fui morar na casa de minha querida sogra).

Nem me dei conta de tantas
As horas que ali passei...
Mil horas, mil dias, 16 anos
Foi o tempo que ali morei.

Meu berço, minha casa, meu céu
Que das mãos de Deus recebi
Do pai, da mãe, do irmão
O amor que lá fora não vi.

Imagens da minha infância
Já velhas de recordar
Do pai balançando a cadeira
Na hora de descansar.

Bem cedo com a pasta ele ia,
Pra luta da vida enfrentar
Debaixo de um sol causticante
Pra nada aos filhos faltar.

No alto o sol se escondia
No meio da minha aflição...
Chegava trazendo alegria
Com a sua pastinha na mão.

Na noite, cansado, pensava
Nos sonhos concretizar:
Vender sua pasta e seu carro
Comprar uma terra e plantar.

Chegou era só mata virgem
Na terra de pedra e poeira
Fez casa e do sonho a vida
Bendita a sua Abobreira!

Exemplo de um homem bravo
Sem banco de escola estudar,
Nos dias nos ensinava a vida
Nas noites, o terço a rezar.

Gostava do verde esperança
Do verde do carro, da casa
De tudo que era verde gostava
Do verde da terra sonhava.

Imagens da minha infância
Que o tempo não quis parar
Levou pra bem longe a esperança
De um dia poder voltar.

Imagens da minha infância
Tão doces de recordar
Da mãe tão fiel companheira
Que só foi amor para dar.

Nas noites de insônia que tinha
Só perto de te me acalmava...
Não sei quanto amor lhe continha
Nas vezes que me abraçava.

Mamãe novamente comigo
Vejo-me às vezes criança,
Pois você foi o meu abrigo
A minha paz e segurança.

Nem sei quantas coisas fizemos
Pra ter tanto que relembrar
Pois mesmo se brigas tivemos
Irmãos fomos sempre exemplar.

Na casa que lá vivemos
E que quase nada restou,
Ficou o amor na lembrança
E no verde do que sobrou.

Não posso te olhar de passagem
Pois quando te veja a saudade
Me faz reviver as imagens
Da vida de um DOCE LAR!
Nubia Parente - (12/08/1972)

sábado, 9 de fevereiro de 2008

No dia que fiquei verde...

Era véspera de um Natal. Meados da década de 80. Estava triste, de pensar que mais um feriado haveria de passar, como tantos outros, sem nenhuma programação especial que pudesse diferenciar entre um dia comum e um dia de festa.
Já quase no final do expediente do trabalho, mamãe liga perguntando se nós não iríamos passar o Natal com ela, na roça. Ouvindo minha resposta, prontamente, minha mãe decidiu ali mesmo no telefone, vir no dia seguinte. Meu marido estava viajando, como sempre e já havia ligado, dizendo estar chegando provavelmente no exato dia de Natal.
Com a notícia da chegada da minha mãe, o que sempre era uma grande alegria, tudo começou a mudar na minha cabeça. Certamente, este seria um Natal diferente! Peguei minha bolsa e sai mais cedo do trabalho para ver se ainda achava uma casa de material de construção, aberta, para comprar uma tinta de parede. Vibrei só em pensar: amanhã cedinho e num minuto, vou deixar a sala da minha casa, um brinco, ao nível dos visitantes e de um dia de Natal..
Já dormi pensando em acordar. Mal o dia clareou, eu já estava de pé, ajeitando uma coisa e outra, correndo pra um lado e para o outro, me preparando para a pintura da sala, que eu mesma ia fazer. E o pincel, ou um rolo, que eu nem lembrei de comprar? Será que hoje tem alguma mercearia aberta? Mas hoje é Natal, tudo fechado... Oh meu Deus! Fiquei contrariada, olhando as paredes da sala que poderiam ficar limpinhas, bonitinhas, pintadinhas de verde. A vassoura estava na frente dos meus olhos, quando tive uma feliz idéia: “ o material desta vassoura é igualzinho ao dos pinceis e esta vassoura poderá ser um imenso pincel. Vai dar certo!”. Coloquei a tinta numa bacia bem grande, embebi a vassoura na tinta, subi e desci a vassoura na parede que fez uma lista verde de quase meio metro de largura por três de altura. Pensei feliz: vai ser em dez minutos e esta sala estará do jeito que sonhei. Até onde a vassoura alcançava na parede, foi mesmo em quase dez minutos, pois, com o som ligado na maior altura, a vassoura subia e descia ao ritmo do forró. Nossa casa tinha a altura de uma igreja. Faltava agora, só pintar o triângulo branco que ficou na parede, onde a vassoura não alcançou, até a “cumeeira” do telhado. Aí é mais difícil, pensei! olhando para a mesa da sala. Sem mais pensar, arrastei a mesa para perto da parede, coloquei a bacia de tinta em cima da mesa e subi com a vassoura na mão, no ritmo do forró. Descia da mesa, arrastava a mesa e bacia para outro local e subia na mesa com a vassoura. Até que por fim só faltava um pouquinho, a parte mais alta que para alcançar exigia ficar na pontinha dos dedos dos pés, em cima da mesa. Comecei a operação até o último impulso para chegar no ponto mais alto. Eu nem acreditei! Estava conseguindo! Mas, ao mesmo tempo, senti os dois pés da mesa se abrindo, bem do lado que estava o meu peso. Larguei a vassoura para o chão, cravei as unhas na parede, enquanto ia descendo com os olhos fechados para esperar o baque da queda. Já no chão, eu me senti aliviada, se não fosse ter caído sentada, na borda da bacia que virou com a tinta em cima da minha cabeça e foi escorrendo pelos meus cabelos, pelo meu rosto, nos meus braços, nas minhas pernas e se espalhando do chão que ficou completamente verde e alagado. Pela vidraça da janela da sala, estava minha comadre a me olhar assustada. Oh Deus, eu havia convidado a minha comadre para almoçar neste dia comigo, pensando que ia passar o Natal sozinha e eu nem me lembrava mais. Que vexame! Toda verde e a casa toda desarrumada... E meu marido... E minha mãe que também vai chegar...Minha comadre entrou correndo para me socorrer e neste momento também, ouvi o estouro de um freio à ar da carreta do meu marido, parando na porta de casa. O que eu faço minha comadre? Era só o que eu dizia, andando na sala, de um lado para outro. Mas quando meu marido chegou na porta e me viu daquele jeito, explodiu com todas as palavras de agravos para me classificar de louca. Nem vi quando minha comadre saiu, pois fui para o banheiro que era o único lugar viável de se ir depois de tudo aquilo. Logo depois, entrou meu marido com uma lata de solvente a despejar sobre nos meus cabelos e passar no meu corpo e eu a gritar de ardor, a dizer que ele queria me matar, correndo em volta do banheiro e ele a me agarrar pela cintura e me puxar para debaixo do chuveiro, dizendo que veio sonhando por me encontrar, e eu dizendo que a casa estava horrível, e nesta luta ficamos por muito tempo. O que aconteceu depois da tinta? Fica por conta da imaginação...Meu maridão tinha inúmeras qualidades, dentre muitas, uma, era de me perdoar facilmente, e a outra, era de dizer, mais de dez vezes no dia, o quanto me amava.

Núbia Parente (10/06/04)

CABÔCA DO MATO

Seu doutô me dê licença,
quando chega a inspiração,
tenha a santa paciênça!
ninguém me segura não.

Nasci aqui no sertão,
catinga de mato afora,
vou falar de coração,
o que sinto nesta hora.

Derretida de amor,
Toda cheia de candura,
vivi aqui sem temor,
com meu oiá de ternura.

Tumbém brinquei de boneca,
ranquei dente de cordão,
bebí água de caneca,
descalça, de pé no chão.

Sou do tempo do fifó,
vestido feito de chita,
talco cheiroso era pó,
pras moça ficar bonita.

Tive lição nesta vida,
tão cheia de triprocó:
num se chama de perdida,
moça fia de Nicó.

Na roça é tudo iguá,
num se vê cunsumissão,
se fala munto informá,
cá língua do coração.

De noite, mio de môio,
na manhã, vai pro moinho,
na mesa, depois do aboio,
leite e cuscuz bem quentinho.

Cheiro de mato na roça,
na chuva, cheiro de terra,
brincano e fazendo trova,
enquanto o bezerro berra.

No curral cheira o estrume,
no escuro da noite, acende
as bunda de vagalume
e um risco de luz se estende.

Escutano o Bem-te-ví
é tanta emoção que vem,
canta tumbém Jurití,
mesmo sem ter um vintém.

Tem rangido de porteira
e carro-de-boi gemeno,
se ouve a noite inteira
no boi chucaio tremeno.


Tem o cantar da mocinha
No relá da mandioca.
La nas casa de farinha
Faz biscoito e tapioca.

E no finá de tardinha,
Sobe uma aroma gostosa
de farinha torradinha
e cachaça Saborosa.

Das pisadas de arguém,
se faz um trilho na mata,
é donde se vai e vem,
naquela vida pacata.

Raia o dia, galo canta,
No escurecer, sapo e gia,
Cigarra e grilo encanta
Quem ouve esta melodia.

No inverno o verde se espaia,
Por toda a vegetação,
As fôias cobrino as gáia,
do que sobrou da estação.

No bom tempo de fartura
de manga, pinha e cajú,
tem quem come tanajura,
com farofa e beijú.


Dezembro é mês de festa
de natal e ano que finda
pra dançar e pra beber
e sentir a vida linda.

A safra quando é boa
dá inté pra se casar,
os fio num fica atoa
vai tudo pra missa rezar.

Tem uns que compra a mala
Pra mode ir viajar.
Tem os que some e nem fala,
Outros só faz planejar.

A fé em Deus é sagrada
Mas, calo se tem nas mão,
Comida aqui é regrada.
Mas se divide o pão.

Quando menina levada,
subia nos imbuzeiro,
de graveto fui furada,
lá pras banda do Juazeiro.

Fazia poesia inocente,
da seca do meu sertão,
pra sorrir gente sem dente
da sina dos meus irmão.


Históras de Lampeão,
dos romeiro, pau de arara,
do Padim Ciço Rumão,
da doença que a fé sara.

Terra seca, esturricada,
nem um verde pra enfeitar,
só poeira na estrada,
fome e tristeza no ar.

Foi uns tempo tão sofrido,
ver as mãe sem ter comida,
menino com zói cumprido...
boca cheia de ferida...

Sabe doutô, sou cabôca,
valente que ninguém pode,
se tapare minha boca
faço imendar os bigode.

Eu parti e fui simbora,
estudar pra ser feliz,
pruveitar tudo que é hora,
escapano por um triz.

Foi aí que chorei tanto,
dos óio ser só ardor.
Na cidade tem encanto,
Mas tem munto dissabor.


Levano só esperança,
de viver com mais fartura
de comida encher a pansa,
Inté estorar a cintura.

Virano tudo sardade,
fui neste mundão afora,
sem mãe, nem paternidade,
nas mão de Nossa Senhora.

Doutô foi coisa difici,
vê gente cuma animá,
as notiça é tolice,
Num tem boa, só tem má.

Vixe que coisa esquisita!
Demorei me acostumar.
ruas de luz é bonita,
mas num é cuma o luar.

Lá tinha umas tá comade
vestida de manequim,
cumendo nóis de mardade,
numa arrelia sem fim.

Tinha rádio e TV
e musga destrambelhada,
reza lá nunca se vê,
tudo que é moça encalhada.


Nas festa quando se come,
Assunte, a boca fechada?
a gente inté passa fome,
pra num sê mal educada.

Tinha ciença dos home
coisa nunca vista aqui,
a misera que consome,
é forçado a se engulí.

Se balançano nos trem,
que gente mais avexada,
mulé e home, um xerém,
cuma se num fosse nada.

Tudo lá muda ligeiro,
e tudo tem que esperar.
Amigo? Só pro dinheiro.
Irmão? Pra que se falar...

Dispois de tanto clamor,
eu queira me aprumar,
trabaiá ter um amor,
minha famia arrumar.

Num ví trabaio de meia,
nem canto pra me arranjar,
vi a coisa ficar feia,
do povo a me despejar.

Êta Doutô que afrição,
diseno, nem aquerdita:
de farcudade a oração
vida de doido bendita!

Secretara e prufessora,
Era as minha profissão,
e o meu sonho de escritora,
guardei no meu coração.

Cuma Cabôca do mato,
sabe que cobra num drome,
me ajuntei com os ingrato
pra num ter que passar fome.

Vi tanta estrada cumprida
Pretinha que nem cravão
Se retroceno estendida,
Cuma jibóia no chão.

Vi tanta encruziada,
Tantas pedra pra topar,
cum tanta mardade espaiada,
vendo a hora num escapar.

Ví home muito sem fé,
ví gente sem coração,
ví cabra cuma muié,
menino sujo no chão.


E no luar da janela,
Oiano casais na rua,
cuma se fosse aquarela,
do sonho junto cá lua.

Cê pode num ter vitora,
mas num ter tumbém derrota,
basta os triunfo e as glora,
e ser fia de Renota.”

Assim pensava comigo,
Cabôca tem sangue quente,
Sofrendo como castigo,
Num reclama do que sente.

Veio no zóio uma lágrima,
mas num podia chorar,
Caboca é matéria prima,
pra essa vida enfrentar.

Têve tantas coisa assim,
contano num tem mais fim,
as vez fico inté pensano,
ninguém gostava de mim.

Lá só tinha uma muié boa
inté merecia coroa,
dava roupa, dava broa,
cunseio a muié atôa.


Conhece Fernão Gaivota?
que escreve pra ajudar,
ensina a fazer a rota,
pra vê os povo avoar?

Aprendi que ave vôa,
e home pode sonhar,
de pegar uma canoa,
sumir e cruzar o mar.

Diz que home que num sonha,
E só vévi a correr,
num sente a vida risonha.
Cava a cova pra morrer.

Fiz mais de mil pirueta,
cum vontade de acertar,
e na hora da colheita, nem Romeu de Julieta
sonhando a esperar.

A cada sonho perdido,
nunca me dei por vencida:
colando os caco escondido,
do que sobrou dessa vida.

No sacudir da poeira,
vou ajeitar minhas transas,
vou ficando pelas beira,
sem perder as esperanças.

Coisa de pouca importança
Mas é bom de recordar,
Lá num dia de festança
Fiz um cabra acordar.

Era um cabôco arruaceiro,
cumplexado, zambeta,
de raibam, cachaceiro,
e tocador de trombeta.

Tinha jeitão egoísta
cuma se fosse um atreta,
dançano como um artista,
deixou minha zunha preta.

Se gosto não desagrado,
mas defendo a verdade,
vendo o meu dedo sangrado,
num tive mais piedade.

Falei pro cabôco um dia,
pra dançar tem que ter jeito,
cuma quem busca arrelia,
cheia de amor no meu peito.

Nestas horas de instrução,
ensinei a tal da dança.
Toda cheia de emoção,
a gente nunca se cansa..



Hoje ele é destemido,
desliza que nem sabão,
ficou munto agardecido,
briga inté tem no salão.

Sonhando com o meu sonho
Com igreja, grinarda e vé,
Vestidinho alumiano,
Igual anjo lá do cé.

Mas tudo só foi um sonho,
intupido de loucura,
desse destino tristonho,
só sobrou mermo amargura.

Cumprei aliança de doce,
fiz as compra no bazar,
pensano cuma se fosse,
no dia de me casar...

Foi minguano a esperança.
Cabôca num é de afossar,
Pisei de dente a aliança,
Joguei no mato a rolar

Muito valente e sem medo,
Cum missa, cartoro e artar,
A ta de aliança no dedo,
Só assim hei de butar.


Cá com minha filosufia,
culera num hei de butar,
sortano o home sumia,
sendo meu, tem de vortar.

Munto difici se vê,
Argúem que pensasse assim,
Cabresto nos faz sofrer,
Fazeno a vida ruim.

Tudo lá é naturá,
mistura doce e jiló,
de coisas boas e má,
termina virando nó.

Já viu carniça no aceiro,
zurubú puxa um pedaço,
nada que é bom fica inteiro,
virano tudo um bagaço.

Num dia, não pude mais,
Fiz das tripa, coração,
bati num belo rapaz,
sacudino ele no chão.

Era frouxo o meu perdão,
nada de uzura eu tinha,
esquecia a ingratidão
se me chamasse de Binha.


Cabôca num fala mentira,
nem mermo para agardar,
tumbém num percura arrelia,
Tando eu queta num lugar.

Ouvi lera e desaforo,
Mas fiquei a segredar,
no fundo rezava no choro
pro sonho realizar.

Passei uma noite inteira,
consultando o coração,
quase fiz uma besteira.
Deus foi minha salvação.

O trabaio eu já tinha,
com tanta consumição,
e de todas coisa minha,
fartava as do coração.

Com as minhas profissão
nem a esperança acabar,
sem ter mais outra opção
fui ser cabo-eleitorá.

Aí eu vi trucidade,
pedir voto a farsidade,
Cuma pedino favor
Pra miorar a cidade.


Pé inchava de correr,
prum home que merecia...
que é que custava eleger
pra ver se ele vencia?

Da cama para labuta,
Cum vontade de acertar,
na venenosa disputa,
o melhor foi se aquetar.

Num quis passar pela vida
só cum rastro dos meus pé.
Quis foi ser inesquecida,
seja por home ou mulé.

Quando meus zói se achou,
Num anjo de gostosura.
Tinha o gosto deste amor:
café, leite e rapadura!

Êta! num foi pouco não,
o trumento da paixão,
roncano cuma truvão,
dentro do meu coração.

Apelava a todos santo,
Padim Ciço - sua benção!
Inté bilhetes dos bolso
Na agonia caia no chão.


Cuma cabôca esperava,
fumano que nem caipora,
quando a sardade apertava
cantava cá minha viola.

Cabôca num anda brava.
Gosta de dar carinho.
A arma que eu usava,
era o meu amor mansinho.

Amor que não tem futuro.
Vixe! eu esperei sentada,
Por um beijo no escuro...
Eu estava apaixonada.

Quanto truvejo de vida,
amar quem nunca me quis,
fiz no meu peito uma ferida,
que só me fez infeliz.

Ah! Se eu contasse a fio,
essa histora com clareza,
Sangrava as fontes dos rio,
Cobrino o mar de tristeza.

Sofri sem cumparação,
só suvaco de aleijado.
Cuma puxar carnegão,
por arquem desajeitado.


Os segredos escondido,
Da vida do meu amor...
Intupia meus ouvido
me sufocano de dor..

Povo sem cunciênça,
Malidicênça, discrença,
Não temia a ta doença,
Nem pedia a Deus cremença

Eu tapava os zuvido,
fechava os zói pra num vê,
ora home, deixe disso!
Cabôca sabe entender...

De manhã na cama véia,
o sol a raiar o dia,
se intrometeno nas teia,
pra me trazer alegria...

Marquei a data de ir
e jurei nos pé do santo
que a prumessa ia cumprir
pra precurar outro canto.

Inté a úrtima hora,
cuma quem num quer mais ir
Cas mão nos zói fui simbora
pra nunca vortar ali.


Vinha tanta emoção,
de intupir minhas guéla
que partia o coração
e, eu sem puder ver ela...

Contive ataque de pranto
de fartar a respiração,
hoje choro pelos canto,
quando vem recordação.

Larguei vida construida,
Vortei para o meu sertão.
O coração é uma ferida
que não tem mais cura não.

Cidade grande e bonita
Inhenxe nóis de ilusão.
Inté se pode ser rico
Mas se fica sem tesão.

Esta foi a concrusão
Dispois deste sofrimento
Que inté lhe peço perdão
De tudo que aqui lamento.

Na roça tudo tem vida.
Simplesmente: Natureza.
Bendita terra querida,
Não te esqueço, com certeza!

TIO HARRY - O RELÓGIO

Transcrevo do meu querido Titio Harry, a sua alma se derretendo de poesia, quando fala do relógio da casa do seu pai (Vovô Paizinho). Este relógio atualmente está na casa de Julião, (meu irmão, sobrinho e companheiro de Marçonaria de Titio Harry ) badalando em todas as horas do dia e com todas as suas peças, ainda originais).
Núbia, SSA – 22/08/07

“ Juazeiro do Norte, 12 de setembro de 1973

Trigésimo aniversário do nosso Relógio Ansonia.

Escravo fiel e mudo, que nada exige, nada reclama, nem solicita para bem servir, senão que lhe estiquem os seus tendões flexíveis de suas cordas, impulsionando a engrenagem de suas peças, para subdivisão do tempo, de meia em meia hora, em constante badalar.

Nasceste escravo, sem que tivesses o direito às vantagens da Lei Áurea de 13 de Maio de 1888.

Vieste de uma Nação Civilizada ( A França ) e das oficinas da Ansonia, trazendo um título de Nobreza, mesmo assim, resolveste fixar residência, no modesto Sítio Sabiá, exatamente em 12 de setembro de 1943.

1.970.000 vezes baterás, às 24 horas de hoje, quando completarás o seu trigésimo aniversário.

Sem nenhuma manifestação de cansaço, de enfado ou má vontade, trabalhas ininterruptamente por três décadas.

Teu rosto onividente, mais parece a abóbora celeste, com limites infinitos, onde o pensamento se perde nas noites do passado, e onde nossa imaginação, por mais que busque a verdade, jamais conseguirá desvendar os mistérios do futuro.

Sentinela discreto, assististes a todos os episódios de uma trajetória.

Ouvistes as arrogâncias de vozes desafinadas ou dissonantes dos mais diversos personagens dos teus amos, sem que, por hábito, aumentasse ou diminuísse a vibração do teu badalar.

Ouvistes a algazarra de crianças brincando, o labor cotidiano dos que trabalhavam e o sono tranqüilo de um Lar Feliz.

Cumpriste o teu dever de servo indormido, numa autêntica e perfeita initerrupção dos tique-taques durante trinta anos de serviços prestados.

1) Ouviste choro de infante,
Ouviste grito de bravo,
Ouviste grito de escravo,
Ouviste a todo instante,
Ouviste, mesmo durante,
O desabrochar de um cravo.

2) Ouviste grito de trem,
Ouviste tanta risada,
Ouviste a meninada,
Ouviste grande também,
Ouviste como ninguém,
Tanta história contada.

3) Ouviste riso estridente,
Ouviste choro abafado,
Ouviste chamar amado,
Ouviste pinho dolente,
Ouviste falar a gente,
Do passado e do presente.

4) Ouviste quando a ferver,
Ouviste café chiando,
Ouviste pano cuando,
Ouviste gente a beber,
Ouviste gente a dizer,
Tome a louça vá lavando.

5) Ouviste lata se abrindo,
Ouviste gente a cheirar,
Ouviste gente a espirrar,
Ouviste rapé caindo,
Ouviste tum-tum infindo,
Se o pilão estava pilando.

6) Ouviste soprar a brasa,
Ouviste milho estalando,
Ouviste café torrando,
Ouviste o dono da casa,
Ouviste dizer que atrasa,
O café que está cheirando.

7) Ouviste chorar alguém,
Ouviste chorar quem vai,
Ouviste chorar quem cai,
Ouviste chorar quem vem,
Ouviste chorar também,
Tantos filhos junto ao pai.

8) Ouviste quebrar a barra,
Ouviste a brisa d´aurora,
Ouviste gente indo embora,
Ouviste mão que se agarra,
Ouviste a triste cigarra,
Que se canta a gente chora.

9) Ouviste lenço acenando,
Ouviste lágrima caindo,
Ouviste lágrima sorrindo,
Ouviste gente abraçando,
Ouviste gente dançando,
Alegre se divertindo.

10) Ouviste tanta seresta,
Ouviste tanta modinha,
Ouviste voz de quem vinha,
Ouviste quem vem da festa,
Ouviste roncar em sesta,
Na ressaca da farrinha.

11) Ouviste alegre o campina,
Ouviste o guriatã,
Ouviste maracanã,
Ouviste vouo de rapina,
Ouviste em doce matina,
Um sabiá de manhã.

12) Ouviste vassoura andando,
Ouviste porta rangindo,
Ouviste janela abrir,
Ouviste pano espanando,
Ouviste voz reclamando,
De tanto pó a sair.

13) Ouviste mão que afaga,
Ouviste lábio que beija,
Ouviste quem bem almeja,
Ouviste perdão que apaga,
Ouviste quem propaga,
Pelo bem que se deseja.

14) Ouviste um doce rougo,
Ouviste pedir trabalho,
Ouviste jogar baralho,
Ouviste, acabe este jogo,
Ouviste beirando ao fogo,
Eu controlo e não falho.

15) Ouviste sou quem sabe,
Ouviste aqui pra nós,
Ouvistes, bem, estamos sós,
Ouviste isto me cabe,
Ouviste isto não há de,
Suceder para pior.

16) Ouviste rezando gente,
Ouviste bela oração,
Ouviste a Renovação,
Ouviste quanto era crente,
Ouviste quanto era ardente,
Tanta fé no coração.

17) Ouviste café servindo,
Ouviste em roda à mesa,
Ouviste tenho certeza,
Ouviste bolo partindo,
Ouviste alegre e rindo,
A gente da redondeza.

18) Ouviste arroz nascendo,
Ouviste arroz limpando,
Ouviste arroz embuchando,
Ouviste arroz crescendo,
Ouviste arroz colhendo,
Com tanta moça cantando.

19) Ouviste estalo de linha,
Ouviste a tropa de burro,
Ouviste saudoso urro,
Ouviste a vaca mansinha,
Ouviste descer galinha,
Do poleiro ainda escuro.

20) Ouviste bode a berrar,
Ouviste cão a latir,
Ouviste vaca a mugir,
Ouviste galo a cantar,
Ouviste gente acordar,
De manhã ao sol sair.

21) Ouviste dançar Reizado,
Ouviste mateu glosando,
Ouviste o rei dançando,
Ouviste cântico rimado,
Ouviste um boi zangado,
No terreiro se espalhando.

22) Ouviste na farinhada,
Ouviste moça rapando,
Ouviste bola rodando,
Ouviste massa empinhada,
Ouviste a rapaziada,
Puxando roda e cantando.

23) Ouviste rouca buzina,
Ouviste carro passando,
Ouviste caixa arriando,
Ouviste caixa franzina,
Ouviste peça de usina,
E chapas descarregando.

24) Ouviste queixa de alguém,
Ouviste gemar com dor,
Ouviste falar de amor,
Ouviste o que não convém
Ouviste falar de bem,
Como quem fala da flor.

25) Ouviste gemido forte,
Ouviste rezar baixinho,
Ouviste alguém pedindo,
Ouviste choro de morte,
Ouviste apelando a sorte,
Pra sempre se despedindo.

26) Ouviste nosso passado,
Ouviste nosso presente,
Ouviste desejo ardente,
Ouviste plano sonhado,
Ouviste sempre acordado,
Os sonhos de nossa gente.

27) Ouviste porque negar,
Ouviste foste Cortez,
Ouviste e quanta vez,
Ouviste a badalar,
Ouviste sem propalar,
Conveniente talvez.

28) Ouviste meu velho amigo,
Ouviste o meu sexteto,
Ouviste sobre o coreto,
Ouviste falar contigo?
Ouviste como eu digo,
Mesmo sendo indiscreto?

29) Ouviste mesmo, se es surdo?
Ouviste, conto a verdade.
Ouviste o que nos invade?
Ouviste meu pobre mudo.
Ouviste pois ouves tudo,
E eu sinto esta saudade.

Harry Sabiá. 1919 - 2000