quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

MINHA MÃE

Através dos olhos da minha mãe, comecei a perceber o mundo.
O mundo de minha mãe era muito rico. Educada em colégio de freiras, entendia de muitas artes, música, culinária, bordados e costura. Falava de obras de pintores famosos. Leu José de Alencar, Machado de Assis e tantos outros. Cantava com uma voz, como se fosse numa ópera e sabia nomes de famosos consertos. Muito culta era assídua na leitura de revistas: O Cruzeiro, Manchete e até o Pasquim o que lhe fazia ser diferente de outras mães que conhecia. Era justa e enérgica quando defendia suas convicções, muito humana e inteligente. Era “feinha”, baixinha, pescocinho enterrado, narizinho pequeno, lábios finos, sobrancelhas espessas, pernas grossas, seis pequenos, cintura fina, bumbum arrebitado, elétrica no andar e sempre têve o cabelo curto conservando desde a sua juventude o mesmo penteado. Tenho orgulho dela me ter confiado, algumas vezes, uma tesoura para cortar o seu cabelo. Era vaidosa, cuidava bem dos cabelos, das unhas e do seu corpo usando bons cremes. Adorava perfumes e camisolas. Tinha a alegria como meta de vida apesar de “ neurastênica” conforme papai falava com graça para definir um lado impaciente de dona de casa. Contava os casos dos infortúnios de sua vida com muita graça e bom humor. Sabia decorado e sempre lembrava as datas de aniversários dos 12 irmãos, cunhadas, sobrinhos, primos, amigos e colegas de trabalho. Quase todos os dias, amanhecia dizendo: “ Hoje é o aniversário de fulano... Ah! se eu fosse gente... mandaria um telegrama!... ”. O seu pessimismo com as coisas boas que pudessem lhe acontecer chegava a ser mesmo pitoresco. Costumava dizer que no seu enterro ia contratar umas meninazinhas para chorar por ela. Em contra partida, o otimismo que passava para os outros era contagiante. Católica, rezava o terço todos os dias em família. Nunca foi de trabalhar muito. Sempre têve sua equipe de cozinheira, lavadeira, engomadeira e faxineira para a limpeza mais pesada. Nunca nos ensinou prendas domesticas e era muito impaciente nas tentativas. Obedecia uma rotina de vida. Pela manhã ensinava, depois do almoço dormia, o banho das 3 da tarde, o cafezinho com leite, a cadeira de balanço na calçada à tardinha, o jantar com todos reunidos na mesa era uma imposição e na noite novamente na calçada se balançando na cadeira rodeada da vizinhança que adorava ouvir suas engraçadas histórias e dar muitas risadas. A sua personalidade era forte, nunca se deixou enganar a não ser quando a bondade de papai interferia. “ A palavra final é de Niní “ isto ela repetia sempre em reverência ao homem que foi o amor da sua vida. Aprendi a respeitar esta mulher e com o passar dos tempos fui lhe chamando carinhosamente de Dona Renota para demonstrar o grande amor e respeito que lhe tinha.
Eu sempre a tive como exemplo. Coisas marcantes até hoje determinam minhas ações na vida. Costumava dizer “ Eu sou águia “. Nunca pude esconder nada da minha mãe. Ela sempre estava adiante de mim. Quando lhe indagava o que é ser águia ela respondia: Ser águia é captar coisas do ar.
Quantas coisas estão guardadas nas minhas lembranças!... como se o tempo não tivesse passado... Lá em casa, éramos em cinco, mas na mesa sempre tinha um sexto lugar ocupado. Eram sobrinhos, irmãos, primos e órfãos da redondeza que minha mãe “ adotava” com a missão de acolher, educar e preparar para vida. Vale lembrar alguns como Mendo sobrinho de papai (hoje sogro do meu irmão). Henrique, que a gente chamava de Rico, também sobrinho de papai. Mamãe fazia sermões intermináveis contra o cigarro que Rico fumava, mas nunca deixou faltar “seu cigarrinho desse vício miserável”, como dizia ela. Depois chegou seu irmão para ocupar este sexto lugar. Tio Fernando veio para encher também a nossa casa de alegria e a partir daí muitos outros tiveram a oportunidade de receber os conselhos, o afeto e o amor de mamãe para levar para a vida e nunca mais esquecer. Neste sexto lugar passaram mais de 15 pessoas.
Professora por vocação, ensinava desrespeitando algumas regras da didática que entendia como modernidade. Muito carismática era muito querida dos seus alunos e ganhou uma homenagem de ter um Prédio Escolar com o seu nome. Alfabetizar o seu filho caçula foi uma missão impossível repassando para a Professora e dizia: “ O menino é analfabeto! Nem sabe ler e nem escrever. “ E tome cocorote na cabeça de Julião, com uma aliança que pesava uma tonelada. A sirene da escola tocava as 12 horas, mas ela sempre terminou seu expediente às 11:30 horas. Batia os dedos com a mão em punho na mesa, dizendo: “ – Doa em quem doer. Goste quem gostar! “
Mamãe foi uma mulher apaixonada pela simplicidade. Chorava no mesmo tempo que ria. A emoção lhe brotava nas pequenas coisas. Tinha muita inspiração para demonstrar o seu grande amor por papai, nas poesias, nas letras de músicas que adaptava às músicas de Roberto Carlos e nos apresentava como novidade quando chegávamos para visitá-la na fazenda. Confiando sempre na sua boa memória foi uma pena não ter registrado. Nelas estavam os seus lamentos, as suas recordações, os seus sentimentos e a sua alma.
Mamãe gostava de colocar o nome “diabo” no meio das suas frases resmunguentas. Então no dia que amanhecia com saudade de papai, nada lhe servia. Um belo dia, ela começou cedo e Tio Fernando começou a contar os “ diabos” que ela dava. - “ Niní é um diabo desalmado, nem lembra que tem um diabo de uma mulher e tudo por causa do diabo daquela fazenda... No fim das contas Tio Fernando contando, vinte, vinte e um, “ aí quando mamãe ouviu, perguntou: “ Que diabo de brincadeira é essa Fernando?! E tio Fernando: - vinte e dois... e ela: Vá pros diabos Fernando: E ele: - vinte e três...Aí ninguém agüentou e explodimos na maior gargalhada como ela sabia dar de forma tão solta e descontraída. O diabo desta história ainda rola até hoje nas rodas alegras de nossa família.
Quando não agüentou mais a saudade de papai, decidiu ir morar na fazenda com ele e lá viveu por mais 15 anos. A partir daí suas lágrimas foram com saudade dos seus filhos e netos. Tinha uma fé inabalada por Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Costumava rezar sempre em voz alta. Eram momentos sublimes de orações espontâneas citando nomes de todas as pessoas queridas e intercedendo também pelas mais necessitadas. Seu maior sentimento na vida foi ter perdido sua mãe aos sete anos de idade e quase não tinha nenhuma lembrança guardada de ter experimentado um carinho materno. Dizia que não sabia o que era ter uma mãe. Só Deus lhe deu a sabedoria de ter sido a melhor mãe do mundo.
Para matar nossa saudade, já aos 70 anos, enfrentava mais de trezentos quilômetros num desconfortável ônibus, chegando num taxi abarrotado de sacos de feijão, milho verde, mangas, pamonhas, doce de leite, qualhada, nata, cocada de amendoin e por diversas vezes vimos o dia clarear colocando as novidades em dia. Tinha uma resistência física impressionante. Tinha hábitos modestos na alimentação: arroz com feijão, uma bilantinha de carne, café com leite, pão, frutas, queijo e seu prato predileto era galinha ao molho pardo e vez em quando gostava de beber uma taça de vinho. Não tomava remédio nem sentia nada que justificasse estar indo para médicos.
Adorava ver a casa cheia de filhos, netos, genros, noras, irmãos, etc. Ninguém jamais que já tenha ido até ela, esquece as calorosas e alegres recepções. De braços abertos gritava “ Oh! Meu Deus que riqueza, meu querido, minha amada! Vem ver Niní quem está chegando...” No passar dos dias somente a presença divertida, alegre, engraçada, risonha de minha mãe, preenchia todas as lacunas de solidão de uma roça sem luz, sem água e sem o verde na época da seca que ela optou para viver pertinho do seu grande amor.
Minha maizinha querida! Quantas coisas eu ainda tenho para contar sobre a sua brilhante passagem nesta terra. As lágrimas turvam a minha visão e vão descendo para cair neste papel, como se fosse um rio de lembranças seguindo no tempo para não mais voltar. Hoje quando olho para o firmamento, procuro a mais linda e brilhante estrela do céu na tentativa de te encontrar... - nem mesmo, minha mãe, a estrela mais linda do céu é você.
Núbia Parente -

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A LUA DE MEL DO MEU TIO

Querido leitor amigo,
Conto com todo respeito
O que se passou comigo
E um casal do meu peito
Em plena Lua de Mel:
Foi doce pro be-le-léu
E todo plano desfeito.

Quem nunca se viu, um dia,
Se levar pra lua de mel,
Num jipe, que nem cabia,
Papagaio e farnel,
Tudo lá pra casa tinha
Sem esquecer a farinha
E a munição do quartel.

Nem imagina Doutor!
Tem ainda uma coisinha...
Sei que foi só por amor,
Além de tudo que vinha.
O tio perdeu a cabeça
Por mais incrível pareça,
Levou também a sobrinha.

Parecendo uma jagunça,
A bichinha inocente,
Entre a bagagem e a bagunça
Estava toda contente
Pensando ser lua de mel,
Um doce que cai do céu
De um tacho no fogo quente.

A sobrinha era eu
Nos meus bons 16 anos.
Foi muito orgulho o meu
Está também nestes planos.
Pra hoje contar a história
Pois escapei com vitória
Com todos meus desenganos.

Nas terras de Lampião
Caatinga pra dar com paú,
Sem uma folha no chão,
Nem uma rês no quintal,
Sem água pra se beber
Só tinha um de comer
E um punhado de sal.

Doutor foi um sofrimento
Ver meu tio suar tanto
Puxando por um jumento
Pra buscar água num canto.
O Vasa Barris tava seco
Pra plantar não tinha esterco
E só “nóis lá” por encanto.

Minha tia bem jeitosa
De Crepon ela enfeitou
O quarto e fez gostosa
A comida e ajeitou
Na mesa a sopa quente
Do lado uma aguardente
Tudo feito com amor.

Meu tio todo sentado
E a sopa quente no prato
Ele estava esfomeado
Se sentindo muito grato
Se não fosse a mosca tonta
Que caiu, morta e pronta,
Ele quase têve enfarto.

Corre doida minha tia;
Leva o prato pra cozinha;
Raspou panela vazia
Mas trouxe outra sopinha...
Duas moscas vêm de lá,
Cai aqui, cai acolá,
Na sopa tão gostosinha!

Meu tio correu nervoso.
Eu disse: Vai se matar!
Com um berro estrondoso
Abriu a boca a gritar:
“ Eu sou mesmo um condenado,
Um cachorro desalmado!
Vou dormir pra me acalmar”.

Quando se ouviu o trovão!...
Lá vem uma tempestade
Parecendo um furacão!
- Vamos correr pra cidade
O rio seco transborda
Não se passa nem de corda
Meu Deus, tenha caridade!

Pra arrumar tanta bagagem
Ligeiro em poucos minutos,
Era preciso coragem
Baforando os charutos
Meu tio pegou o jumento
Que ganhou no casamento
Acoitando em gestos brutos.

Como agüentava o Jegue
Se o jipe quase virou?
Mais um fardo e um esbregue
Aí o Jegue arriou...
Parecia estar morto
Caiu com pescoço torto
Deu um gemido e parou.

- Frei Damião nos socorra
Padim Ciço, me ajude!
Antes que esse jegue morra
“ Nos travesse” no açude.
Nós aqui nesta peleja,
Sobe o rio, relampeja,
Eu já fiz tudo que pude...”

O pior tava por vir
Desespero e loucura
Este jegue a cair
E a noite bem escura,
A correnteza arrastando,
A rede quase ficando
E água pela cintura.

Nesta hora não se sabe
Se salva a tia ou o jegue,
Mas isto, a meu tio cabe!
Só sentia água fria
E vontade de viver.
Deus é por nós, pedes crer!
Se não fosse “ nóis morria”!

De outro lado do rio,
Sentamos pra descansar
Coitadinho do meu tio...
Minha tia a desmaiar,
O jumento já pastando
O dia já clareando
Era hora de voltar.


Olhei minha Tia com pena,
Pois toda mulher um dia
Sonha com noite plena
De cores e fantasia
Mas com tanto sofrimento
De nós e até do jumento
Estava acabada a alegria.

Esta história a gente conta
Quando reúne a família
Nossa tia é uma santa
Seu apelido é Amélia
Professora competente
Uma mãe mais que presente
Merecia uma corbelha.

Meu tio é o Poeta
“Portador” de Castro Alves,
Coincidência completa
Superando os entraves
Segue firme a sua luta
Ao seu coração escuta:
Sabiás são mais que aves!

Obs.: Esta história é verídica. Somos da família Sabiá. Aconteceu em fevereiro de 1969. A fazenda era na região de Jeremoabo - Bahia. Caíram na sopa do meu tio, nesta mesma noite, mais uma mosca e foram três pratos de sopa perdidos. O casamento do meu tio dura até hoje. No fim das contas, quem escuta este cordel já está devendo R$ 3,oo e pode levar o livreto de cortesia. Esse dinheiro é pra pagar o funeral do jegue, que já deve ter morrido, mas merece também nossa homenagem, coitadinho...

Núbia Parente – SSA 24/02/2008

domingo, 17 de fevereiro de 2008

CORDELISTA

Depois que sou cordelista
Minha vida é dar rizada
Como se fosse turista
De uma viagem encantada
No verso tem emoção
Que alivia o coração
Quando a cruz é tão pesada.
Núbia Parente - 2006

“Minha Hora 3”

“Minha hora” é outono...
As folhas estão no chão
Rabiscos de solidão,
Me fazem perder o sono!

“Minha hora” é inverno,
Sem você tudo é tão frio
O que escrevo é sombrio
E fica no meu caderno.

“Minha hora” é primavera!
Vai nascendo a poesia,
Escrevendo fantasia,
Porque agora te espera.

“Minha hora” é verão!
Trazendo seu corpo em brasa,
Por sobre o meu extravasa.
Juntos, adormecerão.

Nubia Parente - 2006

"Minha Hora 2"

"Minha hora" é um sol...
Acorde de um coração!
Si, lá, dó, ré, mi, fá, sol
Vem cantar esta canção.

Ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
"minha hora" me fascina
Vou dançar o meu xodó
Com jeitinho de menina.

Tra, lá, lá tra lá lá lá,
De alegre vou cantar
Si, dó, ré, mi, fá, sol, lá
Soletrando o verbo amar.

Vou fazer um cafuné
"Minha hora" tem carinho,
Mi, fá, sol, lá, si, dó, ré
Vou cantando bem baixinho.

Pense calado pra si
Tudo o que pode pensar
Dó, ré, mí, fá, sol, lá, si,
Eu não vou me importar.

Vou fazer um bafafá
Se em vez de beijar, morder
Sol, lá, sí, dó, ré, mi, fá
Eu vou mandar te prender.

Só está faltando o " mi ",
Pra acabar a " minha hora"
Fá, sol, lá, sí, dó, ré, mi,
E voltar a ser senhora.

Nubia Parente - 2006

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

UMA FOTO ANTIGA



Quase 40 anos que não nos víamos e de repente em minha frente estava uma querida amiga de infância, Conceição Vieira, trazendo uma foto minha, antiga, em preto e branco, dos meus 12 anos de idade. Este reencontro foi um momento de muita emoção para nós duas! Adicionar imagem
A foto me fez lembrar, de imediato, outra foto da capa de um livro de sonetos da poetiza portuguesa, Florbela Espanca. E com muito bom humor, coloquei logo um apelido na minha foto: Nubela Pancada! o que me fez explodir em gostosas gargalhadas.
Olhando a foto embarquei numa viagem de volta ao passado. Cheguei mesmo a sentir o meu estado de espírito daquela época. Eu me vi aos doze anos com tudo que sentia de mim mesma e da forma como nesta ocasião percebia o mundo e as coisas da vida.
A foto 3 x 4 mostrava o rosto redondinho de uma menina pura, de olhar meio tristonho, olheiras profundas e escuras e os cabelos cortados na altura das orelhas. O detalhe do cabelo cortado me transportou para o exato dia que decidi cortar meus longos cabelos por insistência de mamãe. O desespero que fiquei no espelho a me achar a pessoa mais feia do mundo, o choro incontido ao entrar em casa e a recepção consoladora de mamãe a me dizer que eu estava linda de cabelo cortado, causou-me uma saudade que não saberia aqui descrever.
Eu sempre fui muito alegre, mas na foto, o ar de tristeza no meu olhar transparecia os conflitos da minha adolescência nesta fase dos 12, 13 e 14 anos. Um dos maiores conflitos era definir se eu era uma moça ou ainda uma menina. Não existiam roupas que se ajustassem no meu corpo com naturalidade, no meio termo de menina-moça. Diante do espelho a roupa ou era de menina e eu me via uma moça ou de moça e eu me via ainda uma menina. Para sossegar meu coração muitas vezes preferia não sair e guardar os segredos dos meus conflitos. Eu não entendia também porque todas as minhas coleguinhas, até as mais novinhas, já haviam “ficado moças” e eu não. Este era outro segredo que me angustiava e eu não sabia com quem dividir. Anos depois, um dia, amanheci sentindo uma forte dor no pé da minha barriga, outra nas cadeiras (como se falava) descendo pelas pernas, náuseas e mais um bocado de incômodos. Daí foi que eu fui constatar que o que eu tanto desejava acontecer comigo, era uma coisa tão desagradável... Mas, mesmo assim, botei a boca no trombone e a cidade inteira ficou sabendo da novidade.
Por incrível que pareça com 12 anos eu já namorava um menininho desde o jardim de infância. O nome dele era João. Ele tinha uma caixa de sapato cheia de bilhetes que eu mandava para ele, durante os 5 anos de bilhetes pra cá e bilhetes pra lá... Esta caixa de bilhetes ficou mais de 20 anos guardada por uma tia dele. Ele eu não mais vi. Ele estava na igreja no dia do casamento da minha filha, convidado pelo meu genro seu colega de trabalho e ele me reconheceu logo que entrei . Foi pura coincidência! Quando eu soube tive vontade de ir até onde ele trabalhava. Quando nos vimos, sentimos a alegria do reencontro, mas ele não mais se parecia com o menininho dos bilhetes que ficou na memória dos meus amores mal resolvidos.
A foto me fez lembrar, a minha gravata da farda toda ruída, meus coleguinhas do primário, meus professores, a escola, a praça, as festas de agosto e a cidade de Cícero Dantas, onde nasci e lá vivi 16 anos.
Desta menina da foto eu carrego os sonhos, o gosto de escrever cartas e o hábito de acordar feliz com os passarinhos. Em vez de inventar uma mentira para contar todos os dias como fazia quando menina, hoje eu me sinto feliz quando escrevo contando belas histórias, verdadeiras, da minha vida .

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

FUMANTE

Fumei pensando na vida.
Fumei pra esquecer a morte.
Foi tanta fumaça fedida...
Hoje estou viva por sorte!

Fumei muito toda hora.
Fumei até de pirraça.
Chamavam-me de caipora,
Outras vezes de fumaça.

Fumei sem temer doença.
Fumei também de arrogância.
Talvez por ignorância
Quem é fumante, não pensa!

Fumar é devastador!
Agradeço ao Criador,
Por ter ainda pulmão.

E pra ficar bem cheiroso
E dar um beijo gostoso:
Largue o vício meu irmão!

Núbia Parente – Abril/2007

DRICA

Pra atender aos seus apelos
De ficar bonita assim,
Empresto os meus cabelos
E tudo que existe em mim.

Núbia Parente – Junho/2007

DONA JULIA DE RIAÇÃO

Quero contar uma história
De uma mulher vencedora.
Cada dia uma vitória
Sem estudo ela é doutora,
Movida por sentimento
Fez também um juramento,
“Sem bisturi... e tesoura!”

Uma mulher de verdade
que só mede um metro e meio,
Setenta anos de idade,
Veloz, esbarrou sem freio
No leito do “doentinho”
Dizendo com seu carinho:
“Vai ficar bom! Pois eu creio!”

Seu olhar é de esperança
De sorriso iluminado
Com muita fé, ela alcança,
O que for mais complicado
Transporte p`ras capitais,
E vagas nos hospitais,
Pra quem tá adoentado.

Diz Dona Júlia do Posto
de Saúde de Riaçhão:
“Trabalho com muito gosto,
Do fundo do coração.
Não deixo doente atôa
Indo a nado ou de canoa,
Ou numa estrada de chão.

Doentes pra Dona Julia
Vão surgindo de montão.
Ela diz que “ vem de dúzia,
em cima de um caminhão”.
Todos gemendo baixinho
Debaixo do seu carinho
E da sua proteção.




Êta que mulher guerreira,
Um anjo nesta cidade,
Desde mocinha faceira
Assiste a comunidade.
Herdou do seu pai querido,
Tratar quem estar ferido
Com amor e fraternidade.

Imagine seu doutor
Dona Júlia tão franzina
Toda cheia de amor
Junto com a medicina...
Dar sorriso e esperança
“ligeirinha” ela não cansa,
Desde os tempos de menina.

Sem saber ler e escrever
Se sentindo excluída
Quis as letras aprender
Pra melhor ser assistida
Hoje freqüenta a escola
Para idade, não dá bola.
Vai seguindo sua lida!

Tem muitos filhos formados.
Doutores é o que mais tem.
São médicos, advogados
E enfermeiros também;
De Deus recebeu vitória
Para Júlia a maior glória
É poder fazer o bem.

E quanta força ela tem...
Nem se queixa de doença,
Viaja sem um vintém
Seu alimento é a crença.
E ver os necessitados
Nos hospitais internados
É a maior recompensa!







Pede as autoridades,
Apela pra Prefeitura,
Pede a todos da cidade:
Ajude essa criatura!
Pede com muita emoção
Quando no caso, é caixão,
Para os que não têm mais cura.

Nunca gostou de política
Mas em época de eleição,
Depois de apurar a crítica
Decide com o povão
Votar em quem tá mais forte
Pra não brincar com a sorte,
E não dar seu voto em vão.

Para ser vereadora
O convite ela aceitou
E respondeu a doutora:
“ Eu serei sempre o que sou!
Mas eu peço a minha gente
seja apenas consciente:
Veja quem mais lhe ajudou!

A todos de Riachão
Fiz aqui os meus pedidos.
E quando Outubro chegar
Sintam-se comprometidos
Com a sua consciência:
Vejam quem dá assistência
Aos seus entes mais queridos.

Neste cordel eu narrei
Um pouco de sua história!
Dona Julia, em sua terra,
É um sinônimo de glória,
Pois já nasceu vencedora
E fazê-la vereadora
É a nossa maior vitória!
Núबिया Parente

TROVA

Um brinquedo, um amor,
Um sonho, uma fantasia...
Na vida tem o sabor
De uma trova com poesia.
Núbia Parente – Julho/2007

ANA BRABA E ZÉ ZANGADO

No Cordel, leitor amigo,
Também se aprende lições
Pra nos livrar do perigo
Que causam as tentações
Do mundo, a nos convidar,
Confundindo o verbo amar
Maltratando os corações.

Sem pensar que casamento
Fosse mais que uma escolha
Ana tinha em pensamento
Viver ao léu, feito folha.
Um casamento é divino
Uma escola, esse menino!
E justo, como uma rolha.

Seu doutor essa história
Tem tudo de verdadeira
De luta e de vitória
E também de brincadeira
Como todo casamento
Ana fez o juramento
De viver a vida inteira.

Ana jovem displicente
Zé também um meninão
Neste mundo inclemente
E também sem coração
Dando rumo às suas vidas
Foram cavando feridas
Sem prumo, sem direção

Ao casal intempestivo
E por demais complicado,
Faltava adjetivo
Para ser classificado:
Ana Braba e Zé Zangado
Foi o mais apropriado
Para assim lhe ser chamado.

Na Bahia nasceu Ana
Filha de uma cearense
Cara de pernambucana
Lá na cidade Feirense
Esbarrou em Zé Zangado,
Foi seu coração roubado
Pra seu espanto e suspense.

Zé zangado era gaúcho
E também caminhoneiro
Trazia faca no bucho
Parecendo cangaceiro
Quando Zé olhou pra Ana
Pensou: que mulher bacana!
Deve ter muito dinheiro.

O pai de Zé, na fronteira
Percorria o mundo afora
Carreta na ribanceira
Pro coração não tem hora
Deixou viúva e sem trilho
Órfão seu único filho,
Nas estradas ir embora.

Ana não tinha dinheiro
E dava tudo que tinha
Ajudava o mundo inteiro
Era muito boazinha.
Mas se mexessem com ela
Voava pela janela
As panelas da cozinha

Ana estava no trabalho
Matutando em pensamento:
Se não casar eu encalho
Fez até um juramento.
Se Príncipe ele não for
E coração cheio de amor,
Casar era um tormento.

Num dia de micarêta
Com o caminhão quebrado
Zé consertando a carreta
Sem dinheiro e preocupado
Foi ligar da telefônica
Encontrando Ana afônica
De tanto já ter brincado.

Ana, a telefonista
Foi quem fez a ligação
Zé que era motorista
Já lhe fez indagação
O seu nome perguntou:
Madalena, ela falou.
Zé gravou no coração.

Pra falar com Madalena
No outro dia Zé chegou,
Era uma manhã serena
Na Matriz ele parou,
Pra Madalena jurava
Que ali ele se casava
E na hora, ela aceitou!

Valeu-me Nossa Senhora
Começou a confusão.
Como desfazer agora
A mentira e a ilusão
Madalena era Ana
E agora! Zé se dana
Depois dessa confissão.

Ana era mentirosa.
Esse era seu defeito
Mas por ser tão carinhosa
Zé já se sentia refeito
Era só uma mentirinha
Que engolindo com farinha
Não fica mágoa no peito.

Ana se apaixonou
Com o gesto de perdão
Pois no fundo ela pensou
Zé tem um bom coração!
Ana logo se apressou
A família apresentou
Pra Ze pedir sua mão.

Indo embora já com pressa
Zé jurou! Que voltaria
E Ana acreditou nessa,
Alegre esperaria,
Fazendo seu enxoval,
Pois antes do carnaval,
Com Zé, ela casaria.

Sem ninguém mais esperar
Chega Zé com a mudança
Doidinho pra se casar.
Ana cheia de esperança
Sem fazer vestido branco
Dizendo com jeito franco
Casarei mesmo sem dança.

Era como Zé queria
Sem festa e confusão
O casamento seria
Na igreja pra benção...
Na Matriz do juramento
Zé fez o seu casamento
E Ana sua comunhão.

Ana era uma donzela
Pra Zé, Ana era sem par,
Toda pura era ela,
Se não fosse o gênio dela
Que Zé teve que enfrentar
E a Ana suportar?
A vida seria bela.

Ana alegre escandalosa
Zé triste vivia no tédio
Ana só fazendo glosa
Triste Zé, não tinha remédio
Só gostava da estrada
Com sua camisa listrada
Cada parada, um assédio.

Zé não se intimidou
E Ana que era uma fera
Logo, logo engravidou
Trabalhando se esmera,
Desejando uma menina
Comprando já coisa fina,
Cor de rosa, à espera.

Mas o Zé só desejava
Que nascesse um menino
E de azul só comprava
Pra nada ser feminino
Sua sogra tão bondosa
Pra não ver Ana chorosa
Desfazia o desatino.

Seja homem ou mulher,
Dizia a sogra sorrindo,
Metendo a sua colher,
Todo filho é bem vindo!
Vou comprar roupa amarela
Pra evitar essa querela,
De Ana e Zé se consumindo.

E lá na maternidade
Nascia uma princesinha
Para o bem da humanidade
Uma linda menininha
Pra Zé uma decepção
Pois queria um varão
Para o nome que ele tinha.

Disse Ana: que trovejo!
Zé querer perpetuar,
Aproveitando o ensejo
Seu nome multiplicar.
Da família é tradição
De geração em geração
Um nome "Luis" lhe dar.

Ana alheia, nem imagina...
Isso era importante,
Mas se veio uma menina
Não era de forma errante
Era a primeira lição
Que sem Deus no coração
É a vida que ensina.

Bem mais triste é imaginar
O que Ana não sabia:
Quem edifica o lar?
Era a Ana que cabia,
A Zé lhe ser submissa
Rezar e frequentar missa
Pra deixar de rebeldia.

Zé outro filho queria
Pra São Jorge fez promessa,
Sem pensar como seria,
Bonzinho, a Ana confessa.
Se abraçando, bem contentes
Ana diz abrindo os dentes
Vamos fazer um depressa.

Quando o menino nasceu
Ganhou o nome do santo
Ana quase que morreu
No parto e de espanto
Zé não fez aquela festa
Ficou lá com a mão na testa
Muito alegre por enquanto.

Parecia preocupado
Já dois filhos pra criar
Estava desepregado
Só Ana a trabalhar
E isso não era só
Muito aperto de dar dó
E Zé nervoso a brigar.

Era uma vida dura
Ana perturbando Zé
Endoidando a criatura
Logo depois do café
Pra ir procurar emprego
Dois filhos, não é brinquedo
E a Deus pedia fé.

Não tardou Ana dizer
Se tremendo de temor
Outro filho vai nascer
E como prova de amor
Da mulher por seu marido
E ao seu filho querido
O seu nome ele vai ter.

Zé quase que desmaiou
Quando soube da notícia
Pois ele jamais pensou
Já que não tinha malícia
Que o que ele mais gostava
Era filho que gerava
Ou um caso de polícia.

Mas o problema danado
De se ter muitos meninos
Era Zé enciumado
Com seus instintos caninos
Não largar o osso de Ana
E de uma forma insana
Deixa Ana a ouvir sinos.

Ana por insegurança
Se largava a trabalhar
Carregando uma criança
Deixando outra a brincar
A vida ia arrumando
Zé agora trabalhando
Tudo agora ia mudar.

No aniversário de Ana
Zé comprou seu caminhão,
Troca de Fusca sem grana,
Só pegava no empurrão
Zé era determinado
E pra pagar o fiado
Sumia no estradão.

De caminhão quebrado
Carburador entupido
Compra de pneu furado
Notas de motor batido
Ana se via arrochada
Olhando para estrada
E muito choro contido.

Quando Ana precisava
Viajar pra estudar
Zé Zangado esbravejava
Jurava de lhe matar
Mas Ana muito teimosa
Embirrenta e corajosa
Não queria aceitar.

Por cima do meu cadáver
Atravesse essa porta,
Zé pegando no revolver
Ana já se via morta.
Gritava na confusão
Já na hora do avião:
“Zé! minha sorte não corta!”

Zé ficava igual um cão
Mas cuidava das crianças
E Ana no avião
Não perdia as esperanças
Saia meio perdida
Sem nenhuma despedida
A desatar suas tranças.

Quando o avião trazia
Ana, tonta de alegria,
Zé fazendo a folia
Crianças na gritaria.
Era beijo pra todo canto,
Era choro e era pranto,
E nada mais se sofria.

Ana ficava feliz
Com um Zé maravilhoso
Era tudo que ela quis
Se não fosse tão guloso
Comia tudo que tinha
Alí mesmo na cozinha
Pois Ana fazia gostoso.

Zé não era ciumento
Ele até era bonzinho
Sem fazer impedimento
Ana tinha seu carrinho.
Levar filhos pras escolas,
Encher ele de sacolas,
Pra desbravar seu caminho.

Ana cheia de faceta
Mas Zé não lhe dava apoio
Dirigia até carreta
La seguindo o comboio
Zé dizia “ na bangela”
Mas Ana freiava ela
Ouvindo canção de aboio.

Que poliana contente!
Ana gostava de tudo
Zé dizia: feche os dentes
Ana grita: fique mudo!
Brigavam o dia inteirinho
Igual como cachorrinho
Mas se amavam, contudo.

Manhãzinha de natal
Era um dia inesquecível
O churrasco no quintal
Era uma festa incrível.
A criançada brincando
O pagode lá rolando
A cerveja imprescindível

Zé se irritava com Ana
Por fazer tudo de vez.
Assovia e chupa cana
Na maior insensatez
Tinha um parafuso frouxo
E o de Zé que era roxo
Imagine a estupidez

Ana dentro da cozinha
Se via muito sem jeito
Se melava de farinha
Tentando fazer perfeito
Depois o bolo queimava,
Em pneu se transformava
Zé colocando defeito.

Quando mais Ana chorava
Pela panela queimada
Aí Zé só provocava
Ana se via atolada
Com mil coisas pra fazer
Zé deitado pra TV
Com a cara emburrada.

Eram tantos afazeres
Pelo tanto que corria
Não sentia mais prazeres
Pela vida que vivia
Com três filhos pra criar
Mil papeis Ana a encenar
E Zé buscando arrelia.

Enfrentava até ladrão
Zé zangado era valente!
Com uma arma na mão
Apontou pro delinqüente
Ana tomou sua arma
Zé disse: Mulher se acalma!
E fisgou o ladrão no dente.

Tomando banho de praia
Passou uma tal gatinha
Mexendo o rabo de saia
E Ana enciumadinha
Disse: se olhar fica cego
Juro por tudo e não nego.
E Zé deu uma olhadinha.

Quando pulou e emergiu
Do mergulho, Zé gritou:
Sua jura se cumpriu
Pois cego eu já estou
Mas foi uma água-viva
Que passava aderiva
E no seus olhos tocou.

Ana se dizia braba
Zé não era gente não
Se Ana diz: a porta abra!
Com o pé ela vai pro chão
E se Zé tivesse dentro,
Quem duvida do elemento?
Em Ana descia a mão.

Lá no chão chorava Ana
Maldizendo da agonia
Zé deitado já na cama
Chama Ana pra folia
Ana toda sem vergonha
Ainda meio tristonha
Esquecia o que sofria..

Se Zé não sabia amar
A Ana e seu topete
Mas sabia perdoar
Sem ficar buscando frete
Ele tinha compaixão
Pois Ana era sua paixão
Coisa que não se repete.

Zé tinha o coração bom
Ana assim reconhecia
Chamava lá a Kibom
Quando o sol entardecia
Zé juntava a meninada
Picolé pra criançada
E Ana feliz parecia.

Todo problema de Ana
Com Zé, o seu bom marido
É porque queria a fama
Do menino bem vestido
Bem forte e educado
Muito bem alimentado
De muito amor preenchido.

Ana tinha o lado dela
Que nem corda amarrava
Quebrou a sua costela
De tanto que suplicava:
Dar ao filhinho dengoso
Um pai doce e carinhoso.
Era aí que Zé brigava.

Ana com toda instrução
Deveria compreender
Que o instinto de brigão
De Zé teve ao nascer.
Cresceu junto com alemão
Que não repartia o pão
Osso duro de roer.

Ana era tão sabida
Mas não queira assuntar
Da forma que Zé entendia
O que é filho pra educar
Ana bruta ignorante
Com filosofia errante
Haja Ana a cutucar.

Era de enlouquecer
Quando Ana só ouvia
“Menino não tem querer,
Hora deles é de dia,
Quero assistir meu programa,
Os meninos vão pra cama.
Nem procure arrelia”

No meio Ana se via
Menino que resmungava
Era muita agonia
Só uma TV não dava
Ana mudava o canal
Na confusão infernal
Zé dali se retirava.

Zé não engolia sapo
Muito menos boi inteiro
Sem conversa e sem papo
Pegou a TV ligeiro
Sacodiu pela janela
E quebrando o vidro dela
Espatifou no terreiro.

Já no dia seguinte
Zé cobria Ana de beijo
Preparava com requinte
Café com leite e queijo
Servia Ana na cama
Dizendo o quanto lhe ama
Saciando seu desejo.

Na tardinha Zé chegava
Fazendo muita festança
Aos meninos entregava
Sem pedido e sem cobrança
Uma TV bem novinha
A cores e bonitinha
Trazendo muita esperança.

Ana rezava num canto:
Muito obrigada Jesus!
E com lágrimas em pranto
Pedia a paz e a luz
Pedia por harmonia,
Pedia sabedoria,
A Deus Pai que nos conduz.

Nas gavetas do papai
Menino não vai bulir,
De olho fechado ele vai
Pegar roupa pra vestir
Ana tinha os cuidados
Mas os meninos danados
Fazia Zé explodir.

Ana não era mufina
Zé trazia na cabina
As Maria gosalina
Cada qual era menina
Ana nem aí pra nada
Zé fazendo coisa errada
Pra seguir a sua sina.

Nisso Ana se perdeu
Não lutou pelo seu lar
Deixou Zé virar ateu
Esqueceu de lhe falar
Que quem não pisa no freio
O buraco é mais feio
E um abismo vai topar.

Já era tarde demais
Zé se foi, esqueceu Ana
Na folia mais e mais
Encontrou uma insana
Que jurou amor eterno
Fez da sua vida inferno
E roubou a sua grana.

De tanto que Ana sofreu
E Zé também, coitadinho
Deixaram de ser ateus
Buscando devagarinho
Conhecer as Escrituras
Que salvam as criaturas
Na procura de Caminho.

Zé sentia bem no fundo
Por Ana ser perdoado
Pois só existia no mundo
Jesus que não tem pecado
Pra Ana foi bom marido
Por sua mulher foi querido
Mas tudo estava acabado.

Zé se foi sem querer ir
E voltava de repente
Tristonho e sem sorrir
Ana já estava ciente
Dele arribar com a mala
Deixando a chorar na sala
Seus filhos, tudo inocente.

Até que Zé se mudou
De vez pra outro lugar
Ana sozinha ficou
Se danando a trabalhar
Ela não pediu ajuda
Aí ela ficou muda
Esperando Zé voltar.

Muitos anos se passaram
Ana muito que chorou
Eles se divorciaram
Depois Ana enviuvou.
Foi seguindo seu caminho
Tendo dos filhos carinho
Foi o que lhe consolou

E assim, leitor amado
Esta história terminou
Como um livro inacabado
Muita coisa inda sobrou:
Deus em cada coração
Um cordel por saudação
E a lição que aquí deixou.

Nubia Parente - Agosto 2006

DESEJO

Eu só tenho um desejo
Que acorda e dorme comigo:
Ganhar da sua boca um beijo,
Abraçadinha contigo!

Nubia Parente - 12/12/07

BOCAS BEIJOQUEIRAS

Além de falar, comer... é também com a boca que a gente beija.
Ah! Como é bom beijar!...
Minha boca de avó beija tanto que uma pessoazinha tão pequena ainda, não comportando tantos beijos, reclama: ! - Que voinha chata!
Minha boca de mãe só vive beijando! Eles também reclamam: - Pára mãe!, Pára mãe!. (no fundo eu sinto que recebem com carinho os meus enjoativos beijos).
Minha boca de sogra... beija com muito amor o genro e cada uma das norinhas como se fossem meus filhos também.
Minha boca de amiga também beija tanto que pode causar mal estar em quem recebe, censura em quem presencia e até ciúmes em alguns casos.
Minha boca de desconhecida, por incrível que pareça, não resiste quando pinta a vontade de beijar e beija causando espanto muitas vezes. Mas eu beijo assim mesmo! Posteriormente esse beijo é reconhecido de alguma forma.
Minha boca de mulher... Ah! Minha boca de mulher beijou pouco! Que pena!...Mas ainda não perdeu a esperança de morrer de beijar ou matar ainda alguém de beijos...
Minha boca de donzela... é uma boca que deseja ardentemente um beijo!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

MINHA HORA

Na " minha hora", eu sou
Livre! Tão bom é viver...
E por você mais eu vou
Por me fazer merecer.

" minha hora " sem minutos...
Tic Tac é coração...
Nem me importa eu escuto
Tudo! mesmo invenção.

Mas tudo tem sua hora,
a minha não é a sua
E sem querer vou embora
Levando minha alma nua.

"momentos" que nem é hora...
Eles que são tão pouquinhos,
Só serve pra quem implora
O que restou de carinho.

O sol fazendo seu trilho
Hora é noite ou é dia
Não deixo perder o brilho
Desta minha vida vazia.

Sou gente, eu sou humana
Que quer o que você quis...
Mesmo com tantos enganos
Não quero ser infeliz...

Nubia Parente - Maio 2006

BEM-TI-VI

Se eu fosse aquele pássaro cantador
Que alegra e enfeita a natureza...
"bem te vi", "bem te vi", saudade é dor
Que inspira o verso quando está presa.

E a saudade chegando de mansinho,
Vai trazendo aquele sonho perdido...
"bem te vi", "bem te vi", canta no ninho
E desperta, o que já está esquecido.

Quem sabe, se vai tocar, por encanto?!
Um coração, que nem imagina o quanto,
Sua saudade me causa emoção.

Se eu pudesse voar... mas, eu só canto!
Toda saudade que vai neste pranto,
Fica guardada no meu coração.

Nubia Parente 11/11/07

Musica linda de Xangai

MANTANÇA
(JATOBÁ)


Cipó caboclo tá subindo na virola,
Chegou a hora do pinheiro balançar,
Sentir o cheiro do mato, da imburana,
Descansar, morrer de sono na sombra da barriguda;

De nada vale tanto esforço do meu canto,
Pra nosso espanto tanta mata haja vão matar,
Tal mata atlântica e a próxima amazônica,
Arvoredos seculares impossível replantar;

Que triste sina teve o cedro nosso primo,
Desde menino que eu nem gosto de falar,
Depois de tanto sofrimento seu destino,
Virou tamborete, mesa, cadeira, balcão de bar;

Quem por acaso ouviu falar da sucupira,
Parece até mentira que o jacarandá
Antes de virar poltrona, porta, armário,
Morar no dicionário, vida-eterna, milenar;

Quem hoje é vivo corre perigo
E os inimigos do verde, da sombra o ar,
Que se respira,
E a clorofila das matas virgens
Destruídas vão lembrar
Que quando chegar a hora
É certo que não demora,
Não chama Nossa Senhora
Só quem pode nos salvar;

É caviúna, cerejeira, baraúna,
Imbuia, pau-d'arco, solva,
Juazeiro, jatobá...
Gonçalo-alves, paraíba, itaúba,
Louro, ipê, paracaúba,
Peroba, massaranduba;
Carvalho, mogno, canela, imbuzeiro,
Catuaba, janaúba, arueira, araribá;
Pau-ferro, angico, amargoso, gameleira,
Andiroba, copaíba, pau-brasil, jequitibá.

Quem hoje é vivo corre perigo......



Colaboração de Leôncio Pereira Fernandes/NATAL-RN

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Musica DE AMOR É BOM

Canta: Dedé Paraizo
Composição: João Nogueira/Edil Pacheco

Um lindo canto com o gosto de viver
Pintou bonito e ganhou meu coração
Há como é bom viver
É bom viver de amor e até morrer de amor é bom

É bom se ter porque poder pode podar
É bom a gente ter o que ninguém pode ganhar
Saber o que será o dia de amanhã
Comer, beber, dormir, sonhar
E ser um bom vivã

O amor não quer poder
Não quer dinheiro não
O amor não quer beber
O vinho da ilusão
O amor é bem querer
É a fonte da emoção
Então lugar de amor
É mesmo o coração

Esta música ouví ontem no fone sintonizado na Rádio Educadora, 09/02/2008, enquanto caminhava cedinho...

MINHA MÃO POETISA

Minha mão escreve
Contorna meus sentimentos em forma de letras.
Rema no papel minha mão
Guiada por uma forma oculta
Trazendo do meu coração revelações incontidas
Muitas vezes até desconhecidas
E fala coisas por mim
Que eu não saberia dizer
Para me ver feliz!

Minha mão, fiel companheira!
Dizendo da minha solidão,
Tem me consolado...
Falando das minhas alegrias,
Me deixa contente!
Nas minhas tristezas,
Como ela me alivia...
Nos meus sonhos tem me contagiado.
Das minhas ilusõestem me fantasiado...
Nas dúvidas me adverte sempre!
Do meu corpo me completa
E na poesia me retrata.

Núbia Parente - 1984

MINHA QUERIDA MAEZINHA!

Eu fiz esta poesia na capela do Hospital Dom Pedro de Alcântara – Feira de Santana, enquanto se velava o corpo da minha mãe. Era o meu primeiro amanhecer sem ela nesta vida. Olhei pra o mundo e vi umas flores silvestres... passarinhos e um sol nascendo...


Eu catei algumas florzinhas do campo
E depositei no teu coraçãozinho
Com um terço que me ensinou a rezar.
Agora era só o que eu podia te dar nesta vida....

“Você é minha sementinha
Tão cheia de amor e ternura...” foi o que te disse.

Seu abraço sempre foi meu abrigo,
Suas palavras me confortavam tanto...
Seus desejos era só pra nosso bem
E o seu sorriso... era a nossa alegria!

Na simplicidade da nossa despedida, pensei...
“Quanto ricos fomos com a tua presença!”

No meu primeiro dia sem você
Ouvi passarinhos cantando
E o sol novamente se abriu:
Esperança do seu eterno amor!

Mamãe eu sempre vou te amar
E quero te encontrar
Para ser outra vez sua filha
Porque ninguém nesta vida
Foi a melhor mãe que você!

Beijos

Sua filha Núbia – às 4:50h de 03/12/1996.

LAR DOCE LAR

(Eu fiz esta poesia no Dia dos Pais– Novo Hamburgo – RS, quando fui morar na casa de minha querida sogra).

Nem me dei conta de tantas
As horas que ali passei...
Mil horas, mil dias, 16 anos
Foi o tempo que ali morei.

Meu berço, minha casa, meu céu
Que das mãos de Deus recebi
Do pai, da mãe, do irmão
O amor que lá fora não vi.

Imagens da minha infância
Já velhas de recordar
Do pai balançando a cadeira
Na hora de descansar.

Bem cedo com a pasta ele ia,
Pra luta da vida enfrentar
Debaixo de um sol causticante
Pra nada aos filhos faltar.

No alto o sol se escondia
No meio da minha aflição...
Chegava trazendo alegria
Com a sua pastinha na mão.

Na noite, cansado, pensava
Nos sonhos concretizar:
Vender sua pasta e seu carro
Comprar uma terra e plantar.

Chegou era só mata virgem
Na terra de pedra e poeira
Fez casa e do sonho a vida
Bendita a sua Abobreira!

Exemplo de um homem bravo
Sem banco de escola estudar,
Nos dias nos ensinava a vida
Nas noites, o terço a rezar.

Gostava do verde esperança
Do verde do carro, da casa
De tudo que era verde gostava
Do verde da terra sonhava.

Imagens da minha infância
Que o tempo não quis parar
Levou pra bem longe a esperança
De um dia poder voltar.

Imagens da minha infância
Tão doces de recordar
Da mãe tão fiel companheira
Que só foi amor para dar.

Nas noites de insônia que tinha
Só perto de te me acalmava...
Não sei quanto amor lhe continha
Nas vezes que me abraçava.

Mamãe novamente comigo
Vejo-me às vezes criança,
Pois você foi o meu abrigo
A minha paz e segurança.

Nem sei quantas coisas fizemos
Pra ter tanto que relembrar
Pois mesmo se brigas tivemos
Irmãos fomos sempre exemplar.

Na casa que lá vivemos
E que quase nada restou,
Ficou o amor na lembrança
E no verde do que sobrou.

Não posso te olhar de passagem
Pois quando te veja a saudade
Me faz reviver as imagens
Da vida de um DOCE LAR!
Nubia Parente - (12/08/1972)

sábado, 9 de fevereiro de 2008

No dia que fiquei verde...

Era véspera de um Natal. Meados da década de 80. Estava triste, de pensar que mais um feriado haveria de passar, como tantos outros, sem nenhuma programação especial que pudesse diferenciar entre um dia comum e um dia de festa.
Já quase no final do expediente do trabalho, mamãe liga perguntando se nós não iríamos passar o Natal com ela, na roça. Ouvindo minha resposta, prontamente, minha mãe decidiu ali mesmo no telefone, vir no dia seguinte. Meu marido estava viajando, como sempre e já havia ligado, dizendo estar chegando provavelmente no exato dia de Natal.
Com a notícia da chegada da minha mãe, o que sempre era uma grande alegria, tudo começou a mudar na minha cabeça. Certamente, este seria um Natal diferente! Peguei minha bolsa e sai mais cedo do trabalho para ver se ainda achava uma casa de material de construção, aberta, para comprar uma tinta de parede. Vibrei só em pensar: amanhã cedinho e num minuto, vou deixar a sala da minha casa, um brinco, ao nível dos visitantes e de um dia de Natal..
Já dormi pensando em acordar. Mal o dia clareou, eu já estava de pé, ajeitando uma coisa e outra, correndo pra um lado e para o outro, me preparando para a pintura da sala, que eu mesma ia fazer. E o pincel, ou um rolo, que eu nem lembrei de comprar? Será que hoje tem alguma mercearia aberta? Mas hoje é Natal, tudo fechado... Oh meu Deus! Fiquei contrariada, olhando as paredes da sala que poderiam ficar limpinhas, bonitinhas, pintadinhas de verde. A vassoura estava na frente dos meus olhos, quando tive uma feliz idéia: “ o material desta vassoura é igualzinho ao dos pinceis e esta vassoura poderá ser um imenso pincel. Vai dar certo!”. Coloquei a tinta numa bacia bem grande, embebi a vassoura na tinta, subi e desci a vassoura na parede que fez uma lista verde de quase meio metro de largura por três de altura. Pensei feliz: vai ser em dez minutos e esta sala estará do jeito que sonhei. Até onde a vassoura alcançava na parede, foi mesmo em quase dez minutos, pois, com o som ligado na maior altura, a vassoura subia e descia ao ritmo do forró. Nossa casa tinha a altura de uma igreja. Faltava agora, só pintar o triângulo branco que ficou na parede, onde a vassoura não alcançou, até a “cumeeira” do telhado. Aí é mais difícil, pensei! olhando para a mesa da sala. Sem mais pensar, arrastei a mesa para perto da parede, coloquei a bacia de tinta em cima da mesa e subi com a vassoura na mão, no ritmo do forró. Descia da mesa, arrastava a mesa e bacia para outro local e subia na mesa com a vassoura. Até que por fim só faltava um pouquinho, a parte mais alta que para alcançar exigia ficar na pontinha dos dedos dos pés, em cima da mesa. Comecei a operação até o último impulso para chegar no ponto mais alto. Eu nem acreditei! Estava conseguindo! Mas, ao mesmo tempo, senti os dois pés da mesa se abrindo, bem do lado que estava o meu peso. Larguei a vassoura para o chão, cravei as unhas na parede, enquanto ia descendo com os olhos fechados para esperar o baque da queda. Já no chão, eu me senti aliviada, se não fosse ter caído sentada, na borda da bacia que virou com a tinta em cima da minha cabeça e foi escorrendo pelos meus cabelos, pelo meu rosto, nos meus braços, nas minhas pernas e se espalhando do chão que ficou completamente verde e alagado. Pela vidraça da janela da sala, estava minha comadre a me olhar assustada. Oh Deus, eu havia convidado a minha comadre para almoçar neste dia comigo, pensando que ia passar o Natal sozinha e eu nem me lembrava mais. Que vexame! Toda verde e a casa toda desarrumada... E meu marido... E minha mãe que também vai chegar...Minha comadre entrou correndo para me socorrer e neste momento também, ouvi o estouro de um freio à ar da carreta do meu marido, parando na porta de casa. O que eu faço minha comadre? Era só o que eu dizia, andando na sala, de um lado para outro. Mas quando meu marido chegou na porta e me viu daquele jeito, explodiu com todas as palavras de agravos para me classificar de louca. Nem vi quando minha comadre saiu, pois fui para o banheiro que era o único lugar viável de se ir depois de tudo aquilo. Logo depois, entrou meu marido com uma lata de solvente a despejar sobre nos meus cabelos e passar no meu corpo e eu a gritar de ardor, a dizer que ele queria me matar, correndo em volta do banheiro e ele a me agarrar pela cintura e me puxar para debaixo do chuveiro, dizendo que veio sonhando por me encontrar, e eu dizendo que a casa estava horrível, e nesta luta ficamos por muito tempo. O que aconteceu depois da tinta? Fica por conta da imaginação...Meu maridão tinha inúmeras qualidades, dentre muitas, uma, era de me perdoar facilmente, e a outra, era de dizer, mais de dez vezes no dia, o quanto me amava.

Núbia Parente (10/06/04)

CABÔCA DO MATO

Seu doutô me dê licença,
quando chega a inspiração,
tenha a santa paciênça!
ninguém me segura não.

Nasci aqui no sertão,
catinga de mato afora,
vou falar de coração,
o que sinto nesta hora.

Derretida de amor,
Toda cheia de candura,
vivi aqui sem temor,
com meu oiá de ternura.

Tumbém brinquei de boneca,
ranquei dente de cordão,
bebí água de caneca,
descalça, de pé no chão.

Sou do tempo do fifó,
vestido feito de chita,
talco cheiroso era pó,
pras moça ficar bonita.

Tive lição nesta vida,
tão cheia de triprocó:
num se chama de perdida,
moça fia de Nicó.

Na roça é tudo iguá,
num se vê cunsumissão,
se fala munto informá,
cá língua do coração.

De noite, mio de môio,
na manhã, vai pro moinho,
na mesa, depois do aboio,
leite e cuscuz bem quentinho.

Cheiro de mato na roça,
na chuva, cheiro de terra,
brincano e fazendo trova,
enquanto o bezerro berra.

No curral cheira o estrume,
no escuro da noite, acende
as bunda de vagalume
e um risco de luz se estende.

Escutano o Bem-te-ví
é tanta emoção que vem,
canta tumbém Jurití,
mesmo sem ter um vintém.

Tem rangido de porteira
e carro-de-boi gemeno,
se ouve a noite inteira
no boi chucaio tremeno.


Tem o cantar da mocinha
No relá da mandioca.
La nas casa de farinha
Faz biscoito e tapioca.

E no finá de tardinha,
Sobe uma aroma gostosa
de farinha torradinha
e cachaça Saborosa.

Das pisadas de arguém,
se faz um trilho na mata,
é donde se vai e vem,
naquela vida pacata.

Raia o dia, galo canta,
No escurecer, sapo e gia,
Cigarra e grilo encanta
Quem ouve esta melodia.

No inverno o verde se espaia,
Por toda a vegetação,
As fôias cobrino as gáia,
do que sobrou da estação.

No bom tempo de fartura
de manga, pinha e cajú,
tem quem come tanajura,
com farofa e beijú.


Dezembro é mês de festa
de natal e ano que finda
pra dançar e pra beber
e sentir a vida linda.

A safra quando é boa
dá inté pra se casar,
os fio num fica atoa
vai tudo pra missa rezar.

Tem uns que compra a mala
Pra mode ir viajar.
Tem os que some e nem fala,
Outros só faz planejar.

A fé em Deus é sagrada
Mas, calo se tem nas mão,
Comida aqui é regrada.
Mas se divide o pão.

Quando menina levada,
subia nos imbuzeiro,
de graveto fui furada,
lá pras banda do Juazeiro.

Fazia poesia inocente,
da seca do meu sertão,
pra sorrir gente sem dente
da sina dos meus irmão.


Históras de Lampeão,
dos romeiro, pau de arara,
do Padim Ciço Rumão,
da doença que a fé sara.

Terra seca, esturricada,
nem um verde pra enfeitar,
só poeira na estrada,
fome e tristeza no ar.

Foi uns tempo tão sofrido,
ver as mãe sem ter comida,
menino com zói cumprido...
boca cheia de ferida...

Sabe doutô, sou cabôca,
valente que ninguém pode,
se tapare minha boca
faço imendar os bigode.

Eu parti e fui simbora,
estudar pra ser feliz,
pruveitar tudo que é hora,
escapano por um triz.

Foi aí que chorei tanto,
dos óio ser só ardor.
Na cidade tem encanto,
Mas tem munto dissabor.


Levano só esperança,
de viver com mais fartura
de comida encher a pansa,
Inté estorar a cintura.

Virano tudo sardade,
fui neste mundão afora,
sem mãe, nem paternidade,
nas mão de Nossa Senhora.

Doutô foi coisa difici,
vê gente cuma animá,
as notiça é tolice,
Num tem boa, só tem má.

Vixe que coisa esquisita!
Demorei me acostumar.
ruas de luz é bonita,
mas num é cuma o luar.

Lá tinha umas tá comade
vestida de manequim,
cumendo nóis de mardade,
numa arrelia sem fim.

Tinha rádio e TV
e musga destrambelhada,
reza lá nunca se vê,
tudo que é moça encalhada.


Nas festa quando se come,
Assunte, a boca fechada?
a gente inté passa fome,
pra num sê mal educada.

Tinha ciença dos home
coisa nunca vista aqui,
a misera que consome,
é forçado a se engulí.

Se balançano nos trem,
que gente mais avexada,
mulé e home, um xerém,
cuma se num fosse nada.

Tudo lá muda ligeiro,
e tudo tem que esperar.
Amigo? Só pro dinheiro.
Irmão? Pra que se falar...

Dispois de tanto clamor,
eu queira me aprumar,
trabaiá ter um amor,
minha famia arrumar.

Num ví trabaio de meia,
nem canto pra me arranjar,
vi a coisa ficar feia,
do povo a me despejar.

Êta Doutô que afrição,
diseno, nem aquerdita:
de farcudade a oração
vida de doido bendita!

Secretara e prufessora,
Era as minha profissão,
e o meu sonho de escritora,
guardei no meu coração.

Cuma Cabôca do mato,
sabe que cobra num drome,
me ajuntei com os ingrato
pra num ter que passar fome.

Vi tanta estrada cumprida
Pretinha que nem cravão
Se retroceno estendida,
Cuma jibóia no chão.

Vi tanta encruziada,
Tantas pedra pra topar,
cum tanta mardade espaiada,
vendo a hora num escapar.

Ví home muito sem fé,
ví gente sem coração,
ví cabra cuma muié,
menino sujo no chão.


E no luar da janela,
Oiano casais na rua,
cuma se fosse aquarela,
do sonho junto cá lua.

Cê pode num ter vitora,
mas num ter tumbém derrota,
basta os triunfo e as glora,
e ser fia de Renota.”

Assim pensava comigo,
Cabôca tem sangue quente,
Sofrendo como castigo,
Num reclama do que sente.

Veio no zóio uma lágrima,
mas num podia chorar,
Caboca é matéria prima,
pra essa vida enfrentar.

Têve tantas coisa assim,
contano num tem mais fim,
as vez fico inté pensano,
ninguém gostava de mim.

Lá só tinha uma muié boa
inté merecia coroa,
dava roupa, dava broa,
cunseio a muié atôa.


Conhece Fernão Gaivota?
que escreve pra ajudar,
ensina a fazer a rota,
pra vê os povo avoar?

Aprendi que ave vôa,
e home pode sonhar,
de pegar uma canoa,
sumir e cruzar o mar.

Diz que home que num sonha,
E só vévi a correr,
num sente a vida risonha.
Cava a cova pra morrer.

Fiz mais de mil pirueta,
cum vontade de acertar,
e na hora da colheita, nem Romeu de Julieta
sonhando a esperar.

A cada sonho perdido,
nunca me dei por vencida:
colando os caco escondido,
do que sobrou dessa vida.

No sacudir da poeira,
vou ajeitar minhas transas,
vou ficando pelas beira,
sem perder as esperanças.

Coisa de pouca importança
Mas é bom de recordar,
Lá num dia de festança
Fiz um cabra acordar.

Era um cabôco arruaceiro,
cumplexado, zambeta,
de raibam, cachaceiro,
e tocador de trombeta.

Tinha jeitão egoísta
cuma se fosse um atreta,
dançano como um artista,
deixou minha zunha preta.

Se gosto não desagrado,
mas defendo a verdade,
vendo o meu dedo sangrado,
num tive mais piedade.

Falei pro cabôco um dia,
pra dançar tem que ter jeito,
cuma quem busca arrelia,
cheia de amor no meu peito.

Nestas horas de instrução,
ensinei a tal da dança.
Toda cheia de emoção,
a gente nunca se cansa..



Hoje ele é destemido,
desliza que nem sabão,
ficou munto agardecido,
briga inté tem no salão.

Sonhando com o meu sonho
Com igreja, grinarda e vé,
Vestidinho alumiano,
Igual anjo lá do cé.

Mas tudo só foi um sonho,
intupido de loucura,
desse destino tristonho,
só sobrou mermo amargura.

Cumprei aliança de doce,
fiz as compra no bazar,
pensano cuma se fosse,
no dia de me casar...

Foi minguano a esperança.
Cabôca num é de afossar,
Pisei de dente a aliança,
Joguei no mato a rolar

Muito valente e sem medo,
Cum missa, cartoro e artar,
A ta de aliança no dedo,
Só assim hei de butar.


Cá com minha filosufia,
culera num hei de butar,
sortano o home sumia,
sendo meu, tem de vortar.

Munto difici se vê,
Argúem que pensasse assim,
Cabresto nos faz sofrer,
Fazeno a vida ruim.

Tudo lá é naturá,
mistura doce e jiló,
de coisas boas e má,
termina virando nó.

Já viu carniça no aceiro,
zurubú puxa um pedaço,
nada que é bom fica inteiro,
virano tudo um bagaço.

Num dia, não pude mais,
Fiz das tripa, coração,
bati num belo rapaz,
sacudino ele no chão.

Era frouxo o meu perdão,
nada de uzura eu tinha,
esquecia a ingratidão
se me chamasse de Binha.


Cabôca num fala mentira,
nem mermo para agardar,
tumbém num percura arrelia,
Tando eu queta num lugar.

Ouvi lera e desaforo,
Mas fiquei a segredar,
no fundo rezava no choro
pro sonho realizar.

Passei uma noite inteira,
consultando o coração,
quase fiz uma besteira.
Deus foi minha salvação.

O trabaio eu já tinha,
com tanta consumição,
e de todas coisa minha,
fartava as do coração.

Com as minhas profissão
nem a esperança acabar,
sem ter mais outra opção
fui ser cabo-eleitorá.

Aí eu vi trucidade,
pedir voto a farsidade,
Cuma pedino favor
Pra miorar a cidade.


Pé inchava de correr,
prum home que merecia...
que é que custava eleger
pra ver se ele vencia?

Da cama para labuta,
Cum vontade de acertar,
na venenosa disputa,
o melhor foi se aquetar.

Num quis passar pela vida
só cum rastro dos meus pé.
Quis foi ser inesquecida,
seja por home ou mulé.

Quando meus zói se achou,
Num anjo de gostosura.
Tinha o gosto deste amor:
café, leite e rapadura!

Êta! num foi pouco não,
o trumento da paixão,
roncano cuma truvão,
dentro do meu coração.

Apelava a todos santo,
Padim Ciço - sua benção!
Inté bilhetes dos bolso
Na agonia caia no chão.


Cuma cabôca esperava,
fumano que nem caipora,
quando a sardade apertava
cantava cá minha viola.

Cabôca num anda brava.
Gosta de dar carinho.
A arma que eu usava,
era o meu amor mansinho.

Amor que não tem futuro.
Vixe! eu esperei sentada,
Por um beijo no escuro...
Eu estava apaixonada.

Quanto truvejo de vida,
amar quem nunca me quis,
fiz no meu peito uma ferida,
que só me fez infeliz.

Ah! Se eu contasse a fio,
essa histora com clareza,
Sangrava as fontes dos rio,
Cobrino o mar de tristeza.

Sofri sem cumparação,
só suvaco de aleijado.
Cuma puxar carnegão,
por arquem desajeitado.


Os segredos escondido,
Da vida do meu amor...
Intupia meus ouvido
me sufocano de dor..

Povo sem cunciênça,
Malidicênça, discrença,
Não temia a ta doença,
Nem pedia a Deus cremença

Eu tapava os zuvido,
fechava os zói pra num vê,
ora home, deixe disso!
Cabôca sabe entender...

De manhã na cama véia,
o sol a raiar o dia,
se intrometeno nas teia,
pra me trazer alegria...

Marquei a data de ir
e jurei nos pé do santo
que a prumessa ia cumprir
pra precurar outro canto.

Inté a úrtima hora,
cuma quem num quer mais ir
Cas mão nos zói fui simbora
pra nunca vortar ali.


Vinha tanta emoção,
de intupir minhas guéla
que partia o coração
e, eu sem puder ver ela...

Contive ataque de pranto
de fartar a respiração,
hoje choro pelos canto,
quando vem recordação.

Larguei vida construida,
Vortei para o meu sertão.
O coração é uma ferida
que não tem mais cura não.

Cidade grande e bonita
Inhenxe nóis de ilusão.
Inté se pode ser rico
Mas se fica sem tesão.

Esta foi a concrusão
Dispois deste sofrimento
Que inté lhe peço perdão
De tudo que aqui lamento.

Na roça tudo tem vida.
Simplesmente: Natureza.
Bendita terra querida,
Não te esqueço, com certeza!

TIO HARRY - O RELÓGIO

Transcrevo do meu querido Titio Harry, a sua alma se derretendo de poesia, quando fala do relógio da casa do seu pai (Vovô Paizinho). Este relógio atualmente está na casa de Julião, (meu irmão, sobrinho e companheiro de Marçonaria de Titio Harry ) badalando em todas as horas do dia e com todas as suas peças, ainda originais).
Núbia, SSA – 22/08/07

“ Juazeiro do Norte, 12 de setembro de 1973

Trigésimo aniversário do nosso Relógio Ansonia.

Escravo fiel e mudo, que nada exige, nada reclama, nem solicita para bem servir, senão que lhe estiquem os seus tendões flexíveis de suas cordas, impulsionando a engrenagem de suas peças, para subdivisão do tempo, de meia em meia hora, em constante badalar.

Nasceste escravo, sem que tivesses o direito às vantagens da Lei Áurea de 13 de Maio de 1888.

Vieste de uma Nação Civilizada ( A França ) e das oficinas da Ansonia, trazendo um título de Nobreza, mesmo assim, resolveste fixar residência, no modesto Sítio Sabiá, exatamente em 12 de setembro de 1943.

1.970.000 vezes baterás, às 24 horas de hoje, quando completarás o seu trigésimo aniversário.

Sem nenhuma manifestação de cansaço, de enfado ou má vontade, trabalhas ininterruptamente por três décadas.

Teu rosto onividente, mais parece a abóbora celeste, com limites infinitos, onde o pensamento se perde nas noites do passado, e onde nossa imaginação, por mais que busque a verdade, jamais conseguirá desvendar os mistérios do futuro.

Sentinela discreto, assististes a todos os episódios de uma trajetória.

Ouvistes as arrogâncias de vozes desafinadas ou dissonantes dos mais diversos personagens dos teus amos, sem que, por hábito, aumentasse ou diminuísse a vibração do teu badalar.

Ouvistes a algazarra de crianças brincando, o labor cotidiano dos que trabalhavam e o sono tranqüilo de um Lar Feliz.

Cumpriste o teu dever de servo indormido, numa autêntica e perfeita initerrupção dos tique-taques durante trinta anos de serviços prestados.

1) Ouviste choro de infante,
Ouviste grito de bravo,
Ouviste grito de escravo,
Ouviste a todo instante,
Ouviste, mesmo durante,
O desabrochar de um cravo.

2) Ouviste grito de trem,
Ouviste tanta risada,
Ouviste a meninada,
Ouviste grande também,
Ouviste como ninguém,
Tanta história contada.

3) Ouviste riso estridente,
Ouviste choro abafado,
Ouviste chamar amado,
Ouviste pinho dolente,
Ouviste falar a gente,
Do passado e do presente.

4) Ouviste quando a ferver,
Ouviste café chiando,
Ouviste pano cuando,
Ouviste gente a beber,
Ouviste gente a dizer,
Tome a louça vá lavando.

5) Ouviste lata se abrindo,
Ouviste gente a cheirar,
Ouviste gente a espirrar,
Ouviste rapé caindo,
Ouviste tum-tum infindo,
Se o pilão estava pilando.

6) Ouviste soprar a brasa,
Ouviste milho estalando,
Ouviste café torrando,
Ouviste o dono da casa,
Ouviste dizer que atrasa,
O café que está cheirando.

7) Ouviste chorar alguém,
Ouviste chorar quem vai,
Ouviste chorar quem cai,
Ouviste chorar quem vem,
Ouviste chorar também,
Tantos filhos junto ao pai.

8) Ouviste quebrar a barra,
Ouviste a brisa d´aurora,
Ouviste gente indo embora,
Ouviste mão que se agarra,
Ouviste a triste cigarra,
Que se canta a gente chora.

9) Ouviste lenço acenando,
Ouviste lágrima caindo,
Ouviste lágrima sorrindo,
Ouviste gente abraçando,
Ouviste gente dançando,
Alegre se divertindo.

10) Ouviste tanta seresta,
Ouviste tanta modinha,
Ouviste voz de quem vinha,
Ouviste quem vem da festa,
Ouviste roncar em sesta,
Na ressaca da farrinha.

11) Ouviste alegre o campina,
Ouviste o guriatã,
Ouviste maracanã,
Ouviste vouo de rapina,
Ouviste em doce matina,
Um sabiá de manhã.

12) Ouviste vassoura andando,
Ouviste porta rangindo,
Ouviste janela abrir,
Ouviste pano espanando,
Ouviste voz reclamando,
De tanto pó a sair.

13) Ouviste mão que afaga,
Ouviste lábio que beija,
Ouviste quem bem almeja,
Ouviste perdão que apaga,
Ouviste quem propaga,
Pelo bem que se deseja.

14) Ouviste um doce rougo,
Ouviste pedir trabalho,
Ouviste jogar baralho,
Ouviste, acabe este jogo,
Ouviste beirando ao fogo,
Eu controlo e não falho.

15) Ouviste sou quem sabe,
Ouviste aqui pra nós,
Ouvistes, bem, estamos sós,
Ouviste isto me cabe,
Ouviste isto não há de,
Suceder para pior.

16) Ouviste rezando gente,
Ouviste bela oração,
Ouviste a Renovação,
Ouviste quanto era crente,
Ouviste quanto era ardente,
Tanta fé no coração.

17) Ouviste café servindo,
Ouviste em roda à mesa,
Ouviste tenho certeza,
Ouviste bolo partindo,
Ouviste alegre e rindo,
A gente da redondeza.

18) Ouviste arroz nascendo,
Ouviste arroz limpando,
Ouviste arroz embuchando,
Ouviste arroz crescendo,
Ouviste arroz colhendo,
Com tanta moça cantando.

19) Ouviste estalo de linha,
Ouviste a tropa de burro,
Ouviste saudoso urro,
Ouviste a vaca mansinha,
Ouviste descer galinha,
Do poleiro ainda escuro.

20) Ouviste bode a berrar,
Ouviste cão a latir,
Ouviste vaca a mugir,
Ouviste galo a cantar,
Ouviste gente acordar,
De manhã ao sol sair.

21) Ouviste dançar Reizado,
Ouviste mateu glosando,
Ouviste o rei dançando,
Ouviste cântico rimado,
Ouviste um boi zangado,
No terreiro se espalhando.

22) Ouviste na farinhada,
Ouviste moça rapando,
Ouviste bola rodando,
Ouviste massa empinhada,
Ouviste a rapaziada,
Puxando roda e cantando.

23) Ouviste rouca buzina,
Ouviste carro passando,
Ouviste caixa arriando,
Ouviste caixa franzina,
Ouviste peça de usina,
E chapas descarregando.

24) Ouviste queixa de alguém,
Ouviste gemar com dor,
Ouviste falar de amor,
Ouviste o que não convém
Ouviste falar de bem,
Como quem fala da flor.

25) Ouviste gemido forte,
Ouviste rezar baixinho,
Ouviste alguém pedindo,
Ouviste choro de morte,
Ouviste apelando a sorte,
Pra sempre se despedindo.

26) Ouviste nosso passado,
Ouviste nosso presente,
Ouviste desejo ardente,
Ouviste plano sonhado,
Ouviste sempre acordado,
Os sonhos de nossa gente.

27) Ouviste porque negar,
Ouviste foste Cortez,
Ouviste e quanta vez,
Ouviste a badalar,
Ouviste sem propalar,
Conveniente talvez.

28) Ouviste meu velho amigo,
Ouviste o meu sexteto,
Ouviste sobre o coreto,
Ouviste falar contigo?
Ouviste como eu digo,
Mesmo sendo indiscreto?

29) Ouviste mesmo, se es surdo?
Ouviste, conto a verdade.
Ouviste o que nos invade?
Ouviste meu pobre mudo.
Ouviste pois ouves tudo,
E eu sinto esta saudade.

Harry Sabiá. 1919 - 2000

O CHEIROSO...

Eu e mais três colegas de trabalho da Beltran Engenharia, terminamos às 4:00h. da manhã, uma proposta para participar da concorrência da construção do Makro Atacadista em Recife. O dia já estava amanhecendo e retornávamos de Camaçari para Salvador em um táxi: eu e as duas colegas atrás e o colega na frente. Todos exaustos de cansados. Para manter o motorista acordado na perigosa Via Parafuso, comecei contar uma história que havia se passado comigo há mais de 08 anos na época (hoje há mais de 20 anos). Era a história de um Cheiroso.

Aconteceu em São Paulo quando fui participar de um Congresso de RH. Eu estava hospedada no Hotel São Paulo Center, no Largo Santa Efigênia, lá por volta de umas 20 horas, senti vontade de tomar um café com leite e em vez de pedir no quarto, preferi descer e tomar na rua. Quando abri a porta do meu apartamento, senti um perfume forte e gostoso no corredor, parecia que alguém muito perfumado havia acabado de passar por ali. Entrei no elevador completamente perfumado com o mesmo aroma meio cítrico e masculino. No salão do hotel, muito mais o perfume estava no ar e eu fui direto para o portão de saída, perguntar ao porteiro, onde que eu poderia tomar um café com leite. Enquanto o porteiro me orientava a atravessar o Largo me apontando uma porta iluminada do outro lado, ouvi uma voz atrás de mim que mais parecia ser Frank Sinatra: “ Em absoluto, ela não deve atravessar este Largo nesta hora, é muito perigoso “. Quando eu me voltei, me deparei com uma gravata e tive que suspender minha cabeça para enxergar um homem alto, bonito, vestido à rigor de terno preto, sapatos brilhando, cabelos molhados, bem penteados para trás e super perfumado. Foi logo retirando um cartão do bolso, mostrando um carrão, comprido e preto que acabava de parar na frente do hotel, e se apresentando, dizendo ser o proprietário da Drogaria (nem me lembro mais) de Ribeirão Preto e que semanalmente há mais de dez anos é hospede daquele hotel, apontando para o porteiro que confirmava com a cabeça e estava saindo para uma reunião de negócios e com um jeito de pura sedução disse: “ - Que tal se nós fossemos tomar um café com leite e depois da reunião poderíamos até curtir a noite de São Paulo?”

De repente, no taxi, enquanto eu contava esta história, percebi que tanto as duas colegas estavam bem acordadas, com uma cara de suspense, quanto o meu engraçado colega que vinha na frente do carro e que nesta hora, levantou os ombros se ajeitando na cadeira e gritou: “ É PEGAR OU LARGAR” – Foi difícil conter as risadas de todo mundo, até o taxista morria de rir sobre o volante...e somente depois dos risos incontidos foi que eu fui contar o medo que eu tive só de me imaginar na Noite de São Paulo com um desconhecido tão cheiroso. Apesar da insistência, agradeci, e voltei para o meu quarto sem café com leite, pensando no meu marido e nos meus filhos, mas com um cartão muito chic na mão, que eu rasguei dentro do avião de retorno para Salvador.

Minha colega que estava no banco à esquerda disse que uma oportunidade desta só aparece de dez em dez anos. Também acho que é assim, mas o medo nos preserva, e isso também é bom e a lição valiosa que aprendi de papai: diante de uma tentação, fuja!

Esta história também me fez lembrar de outra que ocorreu mais recentemente. Era cedinho e eu acabava de sair de um belo banho, toda perfumada para o trabalho. Neste caso a cheirosa era eu. Nem percebi que no ponto de ônibus em frente a casa de Viviane havia um senhor, muito simpático que me perguntou para onde eu ia e eu respondi distraidamente. Ele continuou dizendo que ia descobrir o telefone de lá, para me ligar a fim de trocarmos algumas idéias. Somente nesta hora percebi a “cantada” e respondi: “Nem idéias eu estou tendo “... e ele retrucou de forma super engraçada: “ Então, a gente troca qualquer coisa...”. Eu segurei a minha gostosa risada, para desabar no ônibus que chegou nesta exata hora, a me lembrar da forma espirituosa como aquele senhor muito sério, achou de me cantar pelo frescor do meu perfume.

Agora sou eu quem diz: “ Oportunidades estão sempre diante de nós, quando estamos de bem com a vida e com uma cara feliz....Basta somente, saber escolher!

Um pouquinho do teu bem!

Não tenho tudo que quero,
Mas quem nesta vida tem?
Eu só desejo e espero,
Um pouquinho do teu bem.

Um sonho, um Príncipe e uma Cinderela

Quem, durante toda a vida, não foi montando, pedacinho, por pedacinho de desejos, algo especial demais e na medida certa, para se ter ou viver?! A isso eu dou o nome de sonho. Um sonho é tudo aquilo que a gente não tem no nosso cotidiano, é algo distante, é tudo o que nos falta. É talvez até o impossível, como um desafio ou um alvo a ser alcançado para a gente seguir na vida, em busca. Sem este sonho a vida torna-se monótona e triste. Em busca de um sonho a gente é capaz de mudar de rumo, de desprezar o necessário imprescindível, de viver feliz já na busca e mergulhar no escuro.

Qual a mulher que não desejou ter ao seu lado um Príncipe?! A isso também eu dou o nome de sonho. Sonhar encontrar um Príncipe é o desejo comum de toda mulher. É querer não acreditar que todo ser humano tem suas fraquezas e defeitos. É não estar satisfeita com o que tem; não valorizar o que está perto ou não ter o amadurecimento no pensar para entender que enfrentar um relacionamento requer preparo, paciência, renuncia, sacrifício, compromisso para sobreviver à difícil missão da vida a dois e que nenhum Príncipe resiste a tanto. Mas, sonhar com um Príncipe não custa nada, é a forma mais fácil de estar, mesmo sabendo que ele não existe. É uma maneira feliz talvez, de se saber que ele não existe, mas, qualquer sinal, fisionomia, ou atitude que seja compatível com uma das qualidades atribuídas a de Príncipe, simplesmente é nesta viagem que se embarca, para viver todas as emoções possíveis durante a busca. E nesta a gente embarca.

Um Principe apareceu do nada para me tornar a mulher mais feliz do mundo e a distância propiciava mergulhar nesta viagem para durar tantos anos. Escrevi tudo do meu coração, em cartas, email, versos, trovas, sonetos e cordéis. Vivi o sonho mais lindo que uma pessoa possa viver, sem criar fantasias para a realidade. Era um sonhar com os pés no chão, acordada. Fui feliz a cada segundo, a cada mínima coisa que viesse dele, da forma mais amiga, compreensiva e respeitosa como ele sempre lidou com as minhas maluquices e mais por isso ele é um Príncipe de verdade.

Vivi um sonho de Cinderela. Quem se deixa viver um sonho de Cinderela, viaja por emoções que na vida real não existem. Eu tive esta oportunidade de sentir e digo que causa um frio na barriga muito mais forte do que se descer do mais alto tobogã. Hoje o meu sentimento é de profunda gratidão a Deus pela amizade que surgiu entre eu e ele resultante do meu sonho de Cinderela. Muito obrigada meu Deus!

ADEUS

Eu não te esqueço, meu bem!
Mas... Seja feliz, meu amor!
Por certo, serei também
Com os versos, por onde eu for...
Núbia Parente, 13/05/07

AMOR GUARDADO

O amor que guardei pra ti
Ainda trago comigo
Não me canso repetir:
Esperar não é castigo.

AMOR AO PRÓXIMO

Como eu não sou PHD em nada, no meu hobby de escrever eu conto as coisas do meu coração.
Hoje no hospital eu falei uma coisa no telefone para minha cunhada e Melhor Amiga, que mereceu uma reflexão enquanto eu assistia papai naquele leito. A frase foi esta: “Deus me deu a oportunidade de estar disponível para o meu pai.”. Nós falávamos sobre a importância de um enfermo ter, um ente querido, disponibilizado para estar presente no desenrolar do processo de sua doença recebendo uma mão para segurar, um alisar em suas pernas, um gesto de cobrir seu corpo com um lençol, um apagar de luz forte, uma ajuda na hora do nebulizador, um contar de histórias, uma cançao cantada, um falar de Deus, ou simplesmente deixar que o ente querido olhe e perceba a presença dos que lhe ama, para se sentir mais seguro, mais acolhido, mais confortado, menos dolorido.Por papai ser um enfermo disputadíssimo! Todos que o conheceu nesta vida, gostaria de poder estar juntinho com ele nestes seus momentos difíceis que só Deus sabe a que proporção. Todos eles sintam-se perdoados pois nem sempre, nesta vida, tudo que desejamos é possível. Mas a questão que me veio muito forte no meu coração, foi: " Quem não gostaria de estar disponibilizado para uma missão tão maravilhosa quanto esta? Qual filho se negaria a isso? Qual mãe ou pai? Qual amigo, ou para simplificar quem não gostaria de evitar, contribuir e ajudar a amenizar uma dor do seu Próximo? Por certo, todos os Cristãos gostariam. Deus nos fez perfeitos!Mas a vida nos prende a questões de sobrevivência e isso é muito pronfundo. A própria vida no seu dia-a-dia nos imprime escolher a cada segundo. Escolher entre o amor e a razão. Entre o certo e o errado. Entre o preto e o branco, o claro e o escuro... E nem tudo que se pode, convém...A prioridade deve ser a dor pois quem sente pede socorro! Não só para quem está no leito, mas para quem quer viajar num avião com segurança. Amar ao próximo deve ser bússula para nortear todas as decisões desta vida. E amar a Deus é a primeira coisa de todas as coisas.Se por qualquer razão você não puder estar aliviando uma dor de alguém, pelo menos no seu dia-a-dia decida sempre baseado no amor ao Proximo para o nosso mundo ser melhor.Esta é a minha inspiração de hoje . Nubia Parente (26/07/2007).

AMOR SEM FIM

Fui sua flor sem perfume
Nas margens do seu jardim,
Mesmo assim, causei ciúme.
Meu amor era sem fim!...

CINDERELA

Nesta manhã clara e linda
Você é a coisa mais bela
Do amor que nunca finda
No peito de Cinderela!

A POESIA ME CONSOLA!

Melhor assim que assado,
Pra quem não quer mais sofrer...
Meu sonho já é passado
Antes mesmo de nascer.

Mesmo triste no meu canto,
Saudosa e sem alegria,
No papel enxugo o pranto
Quando escrevo uma poesia.

Natureza

Bem cedo o sol aparece
Ilumina a natureza,
E ela, feliz agradece,
Esbanjando a sua beleza.

SEM VOCÊ

Quando o Sol acorda quente
E aqui, não vejo você,
A saudade, o peito sente,
A me perguntar, por quê?

Para o amor que sinto...

Meu coração estava triste...
Agora está uma festa!
Pois tudo que em mim existe,
Sem você, nada mais resta.

Sem saber de onde veio
E sem querer perguntar
Se, és bonito ou feio...
Isso não vai importar.

As coisas do coração
Cuido com muito carinho
Primeiro, foi atração
Mas agora é o caminho.

Você me faz muito bem.
Não quero chegar a nada,
Nem mais viver com ninguém:
Quero estar apaixonada!

Ter alguém no pensamento
Pensar dia e noite inteirinha
Amar sem ter sofrimento
E não estar mais sozinha.

TABOCA

Quando o som de um triângulo se confundia com o barulho das ondas do mar a quebrar na praia do Vilas do Atlântico, logo em seguida um alegre homem aparecia com uma lata nas costas, cantarolando, mexendo com um e com outro, gargalhando , até que alguém lhe comprasse suas tabocas. Durante os últimos dez anos, Taboca, assim como era apelidado, percorria diariamente como vendedor ambulante, da Barraca Buraco da Velha até Buraquinho e vice versa, fazendo um caminho em busca de conseguir o sustento de sua família.
Muita gente não sabia que ele residia em Mirante de Peri Peri, como também não sabemos por que escolheu vender tabocas, na orla de Vilas do Atlântico, tão distante de onde morava. Tantas coisas de valor nos passam despercebidas no corre-corre do dia a dia... No entanto, impossível foi deixar de perceber a falta do som do triângulo, das tabocas e daquele homem que também vendia alegria nos últimos dois meses deste verão. Taboca faleceu no dia 09 de outubro passado. Ficamos sem acreditar! Lá na Barraca da Gávea ele tinha parada certa, chegando no balcão para falar com o professor Coriolano, fazendo uma verdadeira festa a gritar: Dona Nubi! ...Dona Nubi!... Eu tinha por ele um carinho muito especial, assim como acredito que muitos dos moradores e freqüentadores da praia de Vilas, também tinham por ele.
João Oliveira da Silva, vulgo Taboca, era natural de Jequié, tinha 68 anos, viúvo, pai de quatro filhos e 5 netos, deixou uma saudade imensa e uma tristeza no ar da Praia do Vilas do Atlântico.
Que Deus o acolha com Seu amor!
Núbia Parente

"Escrever é, para mim, o mesmo que viver"

Esta frase é de Jorge Amado (- um baiano romântico e sensual - escritor de todas as crenças ...)
Na entrada da cidade de Ilhéus, numa viagem que fiz na carona da minha norinha Fabiane, estacionamos num posto de gasolina onde tinha uma placa em homenagem ao nosso grande escritor Jorge Amado. Não contive a alegria e saí correndo para abraçar aquela homenagem. Pedí para ser fotografada alí, juntinho daquela frase que preencheu de cheio o meu coração! Era uma emoção sem tamanho... acho mesmo que minha alma é escritora...rsrsrsrs.
Esta vai ser a foto oficial do meu blog ESCREVER É BOM DEMAIS... quando eu aprender a mexer neste instrumento tão valioso e souber fazer as postagens, colocar fotos, etc, etc, etc. Huuum! vou adorar!
Aquí pretendo publicar as coisas que escrevo para o mundo inteiro ter acesso. Interagindo emoções vou ampliando o rol de amigos, sem fronteiras, sem limites. Este blog é para todas as pessoas que gostam de ler e escrever por prazer ou por necessidade.
Um beijo para todos!